terça-feira, 30 de novembro de 2010

Lançamento do livro de poesia "Poesia sem remetente", de Manuela Fonseca - 11 de Dezembro de 2010

No próximo dia 11 de Dezembro, ocorrerá no Auditório do Campo Grande, 56, em Lisboa, o lançamento do livro de poesia "Poesia sem remetente", da autoria de Manuela da Fonseca, pelas 19H00.

Obra e autora serão apresentadas pelo poeta António MR Martins, ou seja eu mesmo.

Vai ser uma tarde de grande empatia com a palavra, a poesia e a amizade, até porque terá lugar às 16H00 o lançamento de um outro livro de poesia, sob a chancela da mesma editora, a Temas Originais, "Aprendiz de Poeta", de Emanuel Lomelino, com a apresentação do grande e multipremiado poeta Xavier Zarco.

São motivos mais que suficientes para que possam passar uma tarde diferente, mas de enorme qualidade em plena interacção com a boa poesia e com a palavra.

Se puderem, aparecem!

São todos bem vindos!

permanecer

agora possuo-te.
não me perguntes como
nem em que lugar de mim

amanhã
quando abrir a minha mão e a sentir
vazia
quando contemplar o meu coração
e o encontrar


olharei o mar
esperando ver-te na curva alongada
do horizonte.

Teresa Brinco Oliveira

Sou não sendo aquilo que sou

Sou carinho despenteado,
rubor da tua pele,
áurea de felicidade
e carisma de idoneidade
em traço que não gele
um clamor descontrolado.

Sou beijo despoletado,
remetido à boca cheia,
em sentido figurado.
Preso à tua ameia…
o veneno que incendeia
o teu retrato idolatrado.

Sou o sentido que te alheia
e te cobre noutra remessa,
na boca que te nomeia
actriz da minha peça,
punhado de sensações
e partícula de multidões.

Sou o abraço que te afaga,
o sorriso que não contesta,
o ser que te não larga
e o sinal em tua testa.
Por vezes a trave mestra
e outras a matéria que resta.

Sou a envolvência do sentido,
actor em tua festa,
a fuga ao prurido
e o amor que te atesta,
o conto do fiel bandido
que amiúde se detesta.

Sou a vértebra do ciúme
em estrutura cambiante.
No inverno o teu lume
em prisma ofegante.
Também o teu queixume
num verão assaz brilhante.

Sou a réstia da bonança,
degustação do amor,
na paixão a aliança
e o clamor pleno da dor.
O olhar de uma criança
o nosso supremo valor.

Sou suspiro de uma maleita,
a coragem que de ti desperta,
pela nossa paragem estreita
nesta caminhada incerta.
O charme que se aceita
no dealbar da descoberta.

Sou o simples pressuposto,
miragem ou acalento,
de semblante bem disposto
e outras menos atento,
que não foge com o rosto
a simples descontentamento.

Sou o simples batimento
de um coração já cansado,
que omite o lamento
pelo qual é fustigado.
Que tem o maior provento
no sentir-se sempre amado.

Sou a mescla consentida
de uma qualquer existência,
por vezes muito apetecida
outras tida por paciência,
que de forma esbatida
define qualquer vivência.

Sou humana semelhança,
pretexto de decisão
em valiosa pujança,
ou simples contradição,
que na plena exactidão
acentua a sua esperança.

Sou raio de humildade,
fogosidade perdida,
rastreio da capacidade
que alimenta a nossa vida.
Um misto de verdade
numa mentira contida.

Sou homem e tu mulher,
conflito de gerações,
na razão que se tiver
sem desculpas e perdões.
A fraternidade que se quiser
em quaisquer ocasiões.

Sou horizonte profundo,
rio sem ter caudal.
Um habitante do mundo
no país de Portugal,
sujeito a moribundo
deste aperto universal.

António MR Martins

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

AS FONTES

Um dia quebrarei todas as pontes
Que ligam o meu ser, vivo e total,
À agitação do mundo do irreal,
E calma subirei até às fontes.

Irei até às fontes onde mora
A plenitude, o límpido esplendor
Que me foi prometido em cada hora,
E na face incompleta do amor.

Irei beber luz e o amanhecer,
Irei beber a voz dessa promessa
Que às vezes como um voo me atravessa,
E nela cumprirei todo o meu ser.

Sophia de Mello Breyner Andresen

in livro Obra Poética, Poesia, edição definitiva, da editora Caminho (página 54)

Salgam os olhos do mundo

Salgam os olhos das crianças
No verter das lágrimas da fome
E no arremesso do seu desespero

Salgam os olhos de suas mães
Na pobreza que lhes deu nome
Perante o mundo cruel e austero

Salgam os olhos do suplício
Envolvidos pela dura tristeza
Que lhes enevoa o simples pranto

Salgam os olhos do sacrifício
Vilmente hostilizados pela avareza
Que se torna cancerosa como amianto

Salgam os olhos da igualdade
Pelas diferenças patentes ao mundo
Que os poderes jamais tentam igualar

Salgam os olhos da verdade
Por todo o pobre moribundo
Que a sociedade tenta condenar

Salgam os olhos dos pacientes
Desesperando pela cura
Que tanto tarda em lhes chegar

Salgam os olhos dos oprimidos
Pela liberdade que não dura
E faz seus movimentos condicionar

Nas crises das economias
Se fomentam as descrenças
Embelezando democracias
Que apoiam indiferenças
As leis criadas são lotarias
Pobreza e fome são doenças

António MR Martins

foto in RF Royalty Free, na net

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Apresentação do livro "Jogos de Perfídia", de Maria de Fátima Gouveia, em Figueiró dos Vinhos - 29 de Novembro de 2010, 17 horas

O extraordinário romance "Jogos de Perfídia", de Maria de Fátima Gouveia, sob a chancela da Temas Originais, terá a sua apresentação em Figueiró dos Vinhos, no próximo dia 29 de Novembro, pelas 17 horas, na Biblioteca Municipal Simões de Almeida (Tio), pelo que aqui se solicita a presença de quem quiser usufruir de bons momentos com a palavra escrita. Esta obra é magnífica e capaz de trazer o leitor a uma ávida leitura, pelo interessante conteúdo da obra e da forma, exemplar, de como é escrita.

Um outro pormenor (mas de somenos importância), sou eu que vou apresentar este excelente livro.

Embora o dia, e a hora, não sejam os melhores para uma sessão desta qualidade, no que concerne à obra em questão, se puder apareça.

Será bem recebido.

Bem haja


A JAULA E AS FERAS

Centos de doidos vivem nesse hospício
(Quem no diria, olhando cá de fora...?!)
E o portão dança já no velho quício,
Dança, e faz entrar mais a toda a hora.

Trazem todos um sonho, um crime, um vício,
Foram imperadores longe, outrora,
E em seus rostos de espanto ou de flagício
Não sei que ausência atroz me comemora.

Faz medo e angústia olhá-los bem nos olhos;
E, lá por trás de grades e ferrolhos,
Estoiram de ansiedade desmedida.

- Meu corpo, ó meu hospício de alienados!
Abre-te aos meus desejos enjaulados,
Deixa-os despedaçar a minha vida!

José Régio

in livro "Cântico Negro" (Antologia Poética), Selecção e organização de Luís Adriano Carlos e valter hugo mãe e Estudos introdutórios de Luís Adriano Carlos, na página 42, 1ª. Edição, Setembro 2005, edições Quasi.

Perturbações e envolvências

Me perturbam
Os desleixos
De um sentir descontrolado
Como simples desaforo
E algo inusitado

Me perturbam
As raízes
Das ervas assaz daninhas
Que ágeis se enroscam
Na mais pura das andorinhas

Me perturbam
Todos os seres
Deveras conflituosos
Que tendem a aniquilar
A fim de ficar famosos

Me perturbam
Os múltiplos lixos
De sentido desviado
Que se juntam a todo o coro
Mesmo sem ser ensaiado

Me perturbam
As meretrizes
Culto de muitas rainhas
Que omitindo não evocam
O fulgor de suas vinhas

Me perturbam
Os maus quereres
Mesmo que subtis e airosos
Que fazem inflamar
Vários factos e pressupostos

Resta então compensar
A luz dum grande valor
Na estrada que iluminar
E pelo sentido do amor

Num gesto o vou registar
Te entrego uma única flor


António MR Martins

imagem in http://outrapartedemim.blogs.sapo.pt/8843.htmil, na net

sábado, 6 de novembro de 2010

ESSES AMORES....

Esta noite experimentei o sabor dum beijo, navegando no secreto desejo acorrentado,
ao medo de ficar presa ao passado.
Lembrar amores antigos desgovernados,
é como desfolhar rosas, matar sonhos...
Nosso espírito volteia no tempo e na ilusão,
transformando doces quimeras em paixão.
Um sentimento que corrói o nosso direito a voltar,
a sentir outra emoção igual. Porque a metamorfose
dessa doce mentira, numa excitante verdade…
Nos faz cativos dela para a eternidade.

Maria de Fátima Gouveia

Vestes outonais

São pétalas de secura
Levadas pelo vento
Em pesos de melancolia

São folhas ao abandono
Sem eira nem beira
Perdidas sem ter sono

São aves que partem
Para terras de origem
Na presença das nuvens

São tempos de loucura
Onde ventila o lamento
Em demorada ventania

São o aloirar do trono
Das folhas em madeira
Ao sair do mês nono

As ilusões se abatem
Na chegada da fuligem
No Outono dessas origens

Este frio nos carrega
Para a quietude do lar
Neste Outono que chega
Com lareiras a crepitar

A cama nos aconchega
No conforto do deitar

António MR Martins

imagem in http://orizamartins.com/ (Sinfonia de outono), na net

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

UMA TARDE DE OUTONO

Uma tarde de Outuno,
um rio que descansa
nos braços abertos
da ria deitada em lençóis
brancos de sal e maresia.
Uma esplanada em abandono
e a amizade que acontece.
Um olhar, um sorriso,
confidências de fim de dia,
sentimentos que permanecem
na louca voragem
da ventania.
O Inverno que chega
cristaliza as águas da ria,
sentimentos que adormecem
nas noites longas
até ao raiar do dia.

Conceição Gonçalves

in livro "Longos são os Caminhos", página 51, III- a Viagem, edições Edium Editores

Carícias de amantes

Na maciez de sua pele
encontra o antídoto;
à rasteira que repele,
e jamais lhe sai do goto.

Um toque de subtileza
se espraia sem rigor…
desfrutando da beleza
num jeito bem sedutor.

São toques de ansiedade
em gestos bem carinhosos,
a par disso, tão excitantes.

Plenos de cumplicidade,
os afagos calorosos,
dos eternos amantes!...


António MR Martins

imagem in http://uketag795.blogspot.com/ (Amar sem restrições), na net

Sortilégio...

Sortilégio do Ser
este simples Acontecer
Magia de Alquimista
que transmuta em Amor
o sofrer...

Da lágrima
se faz diamante
bálsamo penetrante
Do gesto
orvalho do Bem Querer
Do pensamento
palavra inebriante
que acalenta a alma
se faz Profecia
em cada nova poesia
no Ser que é gente
Anjo de Amor a acontecer...

Ana Fonseca Sousa

Paixões, afectos de todos os tempos

Num porto que foi de abrigo
E suporte de calmarias
Se interiorizaram afectos

Foram recordadas situações
De euforias de outrora
Que perduram nas memórias

Naquele local por castigo
Se expuseram sabedorias
Exteriorizando seus aspectos

Num restauro de condições
Neste presente que se demora
Nas presumíveis dedicatórias

Quando as águas são passadas
Os moinhos já não movem
Mas as paixões recordadas
São passos de quem é jovem
Muitas delas idolatradas
Por todos os que as provem

Num porto de quem abdica
As consequências da vida
Pelas mais diversas razões

Onde a imagem já perdida
Em conceito inexistente
Desses tempos sem fulgor

Nesse abrigo ninguém fica
Suspenso pela despedida
Sem tecer as conclusões

No ofuscar da coisa querida
Que conquistou toda a gente
Na paixão em que se é actor

António MR Martins

imagem in Design Pics - RF Royalty Free, na net

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

no teu verso

vi o teu verso solitário frente ao mar
altivas ondas cobriam a costa
e o horizonte do seu olhar
estava aquém da subtil linha
onde se constroem sonhos.

vi o teu verso obscurecido
olhar o mar em rebentações fortes
e as nesgas de areia cansadas
suportando resignadas
os salpicos de espuma branca.

vi o teu verso afastado de ti
a olhar de longe a neblina
que sem pudor enroupava o molhe.

e as gaivotas planavam...
tão poucas...
tão vadias!

no reverso do teu verso
despontava um sol
com odores de madrugadas
e um sorriso num olhar de inquietação
por manhãs claras.

e as gaivotas planavam...
e eram tantas...
tão vadias!

Teresa Brinco Oliveira

Infinitos pensamentos

Passam pensamentos nas mentes
Que ninguém ousa inventar

Em algumas um tanto dolentes
Noutras ágeis de precipitar

Pensamentos bem maldosos
Resquícios de ódios e vinganças

Outros benfazejos e bondosos
Fortalecedores de uniões e alianças

A fertilidade da mente humana
É infinita no seu congeminar

Seja de índole bem urbana
Ou de ruralidade o seu pensar

Também as há bem doentes
Com múltiplas coisas para ultimar

Passam pensamentos nas mentes
Que ninguém consegue revelar


António MR Martins

Imagem in Brand X Fotografia - RF Royalty Free (pensando, orangotango), na net

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Prisão eterna

Olho-me no espelho sem me reconhecer
nada do que vejo é reflexo do meu ser
quão embaciada pode uma imagem ficar
não vislumbro o que tanto me atormenta
mas é desta dor que meu corpo se alimenta
do que me consome não me consigo libertar

Caminho pelas ruas desertas deste mundo
palmilho um destino com desgosto profundo
e não há fuga possível desta minha prisão
sou castigado pela minha atitude cobarde
por ter falado de sentimento muito tarde
e na hora devida, ter calado uma paixão

Sofro por um destino cruel, auto-infligido
por uma torpe e vil timidez fui acometido
assim perdi a oportunidade de ser amado
pelos dedos deixei fugir a minha felicidade
mesmo não mentindo, ocultei toda a verdade
e para sempre ficarei preso ao meu passado

Emanuel Lomelino

Suspiros de amor

Cai-te um suspiro da alma
Pelo qual não me desapego

Suspiro que te traz calma
Em ritmo que não sonego

Cai-te a réplica do mesmo
Num sentir mais profundo

Salpicos proferidos a esmo
Sustentáculo do nosso mundo

Cai-te uma lágrima sentida
Em sentires que são intensos

Pela simples felicidade vertida
E dos suspiros a ela propensos

Cai-te um sorriso maroto
E um gesto assaz traquina

Como saída de totoloto
Na tabacaria de qualquer esquina

Cai-te a rubor da face
Como um intenso clamor

Não há suspiro que disfarce
O puro sentido do amor

António MR Martins

Imagem in http://manoelvirgilio.spaces.live.com/ (na net)