sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Dalila Moura Baião






UM BERÇO ATRACADO NO CAIS

 
Em que nó se entornou a lata de chá
e o perfume de violetas?
Em que margem se esvaziou o futuro
dotado pelo homem em parcela de vida?

A floresta que desculpe os ramos,
enquanto se exibem nos remos junto ao cais.

Os nós apenas envergam um casaco de cordas,
num turbilhão de inverno despido, a rondar os passos
das águas, que se desprendem numa corrente de ar.

A vida é um berço atracado no cais,
que se desfaz num instante,
que o tempo desembrulha!

A tesoura, estremece o corte   
onde se espraiam os farrapos e as cinzas!

Dalila Moura Baião, in “Quando o mar corre no peito”, página 23, edições El Taller del Poeta, Pontevedra (Espanha), 2014.

desintegração quase total


Imagem da net, em: www.anjodeluz.net



consentimento amorfo
da poluente contingência
que apruma a seca
e corrói a fertilidade

galope áspero e preciso
que amedronta a liberdade
em tórridos lamentos
ofuscando as partículas
inexistentes da felicidade

lápide da memória
que esbanja todos os sentidos
num afogadilho constante
onde os devaneios sociais
se assumem
no espartilhar da coesão da saudade

e espalham o ventricular
nas bocas inquietas
em tantas imagens esbatidas
num tempo que se amortiza
nesta vivência impagável

tudo se renega
tudo se espartilha
tudo se desapega
até à última maravilha

e assim nos mutilam
nos desencorajam
nos desintegram
até à ínfima espécie
num insolente corrupio

restam
pequenas coisas desvalorizadas
para além da vida
e de tudo o que nos rodeia

e este desvirtuado
antebraço improfícuo
perante o infindo anseio
duma terra
em vésperas de se sentir
quase “morrida”

encontra-se congelado
em rastreio final
ante a última
e ténue esperança
ora demolida

 
António MR Martins

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Edite Pinheiro





CÉLERE INSTANTE

Naquele silêncio apelativo
de um grito áfono
ouvi Bach no Inverno
e mesmo que o Verão
fosse o momento
nada me dizia o inverso,
porém estava perplexa,
fixada na tua silhueta.
Não avancei,
nem permiti
que o acaso fosse.
E tudo foi tão pouco!
Tão célere, tão notável.

Edite Pinheiro, in “do ousar ao caos do medo”, página 54, edição de autor, 2014.

Paradigmas de uma folha de papel em branco


Imagem na net, em: comvocenomeucoracao.blogspot.com



Deixei-te uma folha de papel viva
repartida por entre pedaços de mim,
com a nossa maior palavra cativa
e um suave cheirinho a jasmim.

Folha num sobrescrito inserida,
restando-se dobrada em três partes,
ficou outra palavra esquecida!...
Amor novo de múltiplos encartes.

No fundo desse invisível texto
coordenado pela sabedoria,
sendo instituído nesse contexto.

Entre o silêncio veio a ousadia,
êxtase para simular um pretexto...
de te enviar um beijo à revelia!...

 
António MR Martins 

domingo, 7 de setembro de 2014

Sandra Nóbrega





EXCLAMO ESTE AMOR

Exclamo este Amor
sem qualquer interrogação
afirmado entre as vírgulas da Vida
e os parágrafos do Coração.
Busco em todos os Verbos
a conjugação deste Sentir
onde o Presente…
És Tu!
O Passado,
a Eternidade de que és feito
e o Futuro,
a Esperança do Amanhecer ao teu lado!

Sandra Nóbrega, in “A manhã de Ser”, página 26, edições Lua de Marfim, Maio de 2014.

P. S. – “A manhã de Ser”… é um livro pleno de Amor!...

Desses teus olhos castanhos


Ponte sobre o rio Ceira, em Góis (foto de minha autoria)



Sendo bênção os teus olhos castanhos
e o puro olhar que deles emana,
recebo a luz desses cristais tamanhos
num belo vislumbre que jamais engana.

Soltam-se pétalas pelas madrugadas
das lindas flores que deles despontam,
em gotas preciosas das mais amadas
que de tantas memórias, tudo contam.

Esses teus olhos não são inventados
nem tão pouco serão do imaginário,
simples conceito entre bens dedicados.

Lágrimas puras do meu fontenário…
são cintilantes corpos apaixonados
e felicidade sem ter legendário.

 
António MR Martins

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

João Carlos Esteves





OLHARES

Olhas o Mundo por dentro
nas penumbras intermitentes
percorridas por sombras ausentes
que demarcam os ambientes
nas rugosidades do tempo

Crias instantes sagrados
intervalos intemporais
captados em instantâneos
que se intrometem, velozes,
na corrente ininterrupta
de momentos ignorados

Recuperas assim a beleza
dos lugares e dos sentidos
captados pelos olhares
que nascem dentro de ti

 
João Carlos Esteves, in “Absolvição”, página 76, edições Temas Originais, 2011. 

Entre guindastes e amarras


Imagem da net, em: www.engenharia.com.br



Soam subidas de perdidos guindastes
falhando alcances condicionados,
desfalecem na dependência das hastes
apesar dos pontos já esmiuçados.

Roldanas em ferrugem sem ter tino
desequilibram o estrado-perfeição…
afugentando correntes do destino
que se revoltam entre tanta negação.

Geram-se conflitos em total desordem
rangendo tantas patranhas por olear
e todos os solícitos que tal abordem.

Jamais façam as máquinas inventar!
Nem mesmo no rigor de qualquer ordem,
que seja impossível de concretizar.

 
António MR Martins