sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Mar, o futuro de Portugal

 
O Mar, visto da Ericeira.
Foto de António MR Martins


Foram os tempos das descobertas nos rumos do conhecimento e da propagação da cultura portuguesa, mundo fora. Tudo começou com o Infante D. Henrique e a sua Escola Náutica, em Sagres, depois foi o navegar efectivo que nos levou às ilhas da Madeira e ao arquipélago dos Açores, mais tarde fomos até Cabo Verde e à Guiné, seguindo-se Angola e Moçambique, vindo a conhecer o algodão e o café, entre outros produtos, e tantos pontos referenciais, até Vasco da Gama descobrir o caminho marítimo para a Índia em 1498, descobrindo o mundo das especiarias e Pedro Álvares Cabral chegar a Terras de Vera Cruz, hoje Brasil, vislumbrando o ouro, dois anos depois. Para além da chegada ao Japão onde Portugal levou a conhecer as armas de fogo, depois de trazer para este pequeno burgo tanta coisa dessa imensidão universal. Tudo magistralmente relatado nessa epopeia poética, “Os Lusíadas”, pela nossa grande referência, o poeta Luís Vaz de Camões, que com os seus registos escritos andou por esses mares, deste enorme planeta.

Os anos foram passando e o mar continuou a ser um tesouro para o mundo português, pela navegabilidade, pelas rotas comerciais e da comunicabilidade, pelas possibilidades que o mesmo proporciona aos povos por ele banhados, no sentido da sua progressão e estabelecimento. É uma mais-valia para uma nação e nesse quadro efectivo terá de se ter em conta, nestes momentos que nos trazem a crise para o nosso interior. Há que saber desbravar este mar que temos, mesmo à mão, com os veículos que temos para esse efeito, no sentido mais profundo e empreendedor da modernidade.

Este mar passou a ser um factor importante de desenvolvimento e de sobrevivência, pelo alimento que nos fornece e sempre forneceu. Mas o turismo que se poderá desenvolver no seu âmbito é um pecúlio que não deverá ser esquecido, tal como as estradas marítimas que ele nos oferece a partir de duas frentes das nossas costas, a litoral e do sul, num sem limite de hipóteses. E os portugueses sempre souberam enaltecê-lo em variados parâmetros, pela escrita (sempre), pela imagem, pelo som e pela interacção plena com o seu conteúdo. Habituamo-nos a viver junto a ele, tendo-o ao nosso lado a abraçar-nos, oferecendo-nos gratuitamente os seus serviços. Há que discernir, quantificar, qualificar, criar, desenvolver, equacionar e ir em frente, neste mar que é nosso e representa uma riqueza incalculável que teremos de saber aproveitar, de forma coerente e inteligente.

Nós sentimos o seu cheiro, nós vivenciamos as suas revoltas e as suas carícias, nós partimos e chegámos nas suas rotas. Foram os portugueses que fizeram a viagem aérea transatlântica, sobrevoando as águas do Atlântico, de Portugal ao Brasil, num projecto de sucesso levado a cabo por Gago Coutinho e Sacadura Cabral. Portugal sempre teve gentes que viveram com, e, do mar, desde os marinheiros que suportaram as maiores, e mais variadas, tormentas até conseguirem conquistar aquilo a que se propuseram, muitas vezes recebendo algumas novidades não consideradas nas suas iniciativas, sempre bem acolhidas, passando pelos pescadores que também lutaram com denodo pela conquista da pesca, e das valiosas colheitas alimentares conseguidas ao longo dos anos, pagando, muitas vezes, com a própria vida para que tal se concretizasse e finalmente pela própria indústria, que o mar permitiu desenvolver, evidenciada pelos estaleiros, pelos portos, pela indústria conserveira e por tantas outras coisas que não vale a pena estar a enumerar, porque reconhecidas generalizadamente.

Todavia, muitas ainda existirão que nos poderão proporcionar deliciosas surpresas, não custa nada tentar. Só teremos de saber aproveitar este enorme manancial que nos rodeia, e que está mesmo ao nosso lado, não esquecendo a voz escrita do poeta: “Por mares nunca dantes navegados…”

 

Isso já fizemos, agora há que procurar novos sentidos para essa navegação, tentando novos êxitos, aqueles que nos permitam conseguir combater esta crise que nos aperta a garganta, o peito e o pensamento. Vamos a isso!


António MR Martins

Texto publicado no suplemento do jornal de língua portuguesa "Hoje Macau", em 23.09.2011, página 14.

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