O Mar, visto da Ericeira.
Foto de António MR Martins
Foram os tempos das descobertas nos rumos do
conhecimento e da propagação da cultura portuguesa, mundo fora. Tudo começou
com o Infante D. Henrique e a sua
Escola Náutica, em Sagres, depois foi o navegar efectivo que nos levou às ilhas
da Madeira e ao arquipélago dos Açores, mais tarde fomos até Cabo Verde e à
Guiné, seguindo-se Angola e Moçambique, vindo a conhecer o algodão e o café,
entre outros produtos, e tantos pontos referenciais, até Vasco da Gama
descobrir o caminho marítimo para a Índia em 1498, descobrindo o mundo das
especiarias e Pedro Álvares Cabral chegar a Terras de Vera Cruz, hoje Brasil,
vislumbrando o ouro, dois anos depois. Para além da chegada ao Japão onde
Portugal levou a conhecer as armas de fogo, depois de trazer para este pequeno
burgo tanta coisa dessa imensidão universal. Tudo magistralmente relatado nessa
epopeia poética, “Os Lusíadas”, pela nossa grande referência, o poeta Luís Vaz
de Camões, que com os seus registos escritos andou por esses mares, deste
enorme planeta.
Os anos foram passando e o mar continuou a ser
um tesouro para o mundo português, pela navegabilidade, pelas rotas comerciais
e da comunicabilidade, pelas possibilidades que o mesmo proporciona aos povos
por ele banhados, no sentido da sua progressão e estabelecimento. É uma
mais-valia para uma nação e nesse quadro efectivo terá de se ter em conta,
nestes momentos que nos trazem a crise para o nosso interior. Há que saber
desbravar este mar que temos, mesmo à mão, com os veículos que temos para esse
efeito, no sentido mais profundo e empreendedor da modernidade.
Este mar passou a ser um factor importante de
desenvolvimento e de sobrevivência, pelo alimento que nos fornece e sempre
forneceu. Mas o turismo que se poderá desenvolver no seu âmbito é um pecúlio
que não deverá ser esquecido, tal como as estradas marítimas que ele nos
oferece a partir de duas frentes das nossas costas, a litoral e do sul, num sem
limite de hipóteses. E os portugueses sempre souberam enaltecê-lo em variados
parâmetros, pela escrita (sempre), pela imagem, pelo som e pela interacção
plena com o seu conteúdo. Habituamo-nos a viver junto a ele, tendo-o ao nosso
lado a abraçar-nos, oferecendo-nos gratuitamente os seus serviços. Há que
discernir, quantificar, qualificar, criar, desenvolver, equacionar e ir em
frente, neste mar que é nosso e representa uma riqueza incalculável que teremos
de saber aproveitar, de forma coerente e inteligente.
Nós sentimos o seu cheiro, nós vivenciamos as
suas revoltas e as suas carícias, nós partimos e chegámos nas suas rotas. Foram
os portugueses que fizeram a viagem aérea transatlântica, sobrevoando as águas
do Atlântico, de Portugal ao Brasil, num projecto de sucesso levado a cabo por
Gago Coutinho e Sacadura Cabral. Portugal sempre teve gentes que viveram com,
e, do mar, desde os marinheiros que suportaram as maiores, e mais variadas,
tormentas até conseguirem conquistar aquilo a que se propuseram, muitas vezes
recebendo algumas novidades não consideradas nas suas iniciativas, sempre bem
acolhidas, passando pelos pescadores que também lutaram com denodo pela
conquista da pesca, e das valiosas colheitas alimentares conseguidas ao longo
dos anos, pagando, muitas vezes, com a própria vida para que tal se
concretizasse e finalmente pela própria indústria, que o mar permitiu
desenvolver, evidenciada pelos estaleiros, pelos portos, pela indústria conserveira
e por tantas outras coisas que não vale a pena estar a enumerar, porque
reconhecidas generalizadamente.
Todavia, muitas ainda existirão que nos poderão
proporcionar deliciosas surpresas, não custa nada tentar. Só teremos de saber
aproveitar este enorme manancial que nos rodeia, e que está mesmo ao nosso
lado, não esquecendo a voz escrita do poeta: “Por mares nunca dantes
navegados…”
Isso já fizemos, agora há que procurar novos
sentidos para essa navegação, tentando novos êxitos, aqueles que nos permitam
conseguir combater esta crise que nos aperta a garganta, o peito e o
pensamento. Vamos a isso!
António MR Martins
Texto publicado no suplemento do jornal de língua portuguesa "Hoje Macau", em 23.09.2011, página 14.
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