AMARGURA
É
como se em mim pousasse
Uma
angústia lívida e lentaUm sussurrar de véus em oração
O desnudar de um sal morno
Nos lagos do meu corpo arrefecido.
É
como se em mim assentasse
Todo
o luto da minha almaTecesse incompreendida
Um colar de uivos
Gélidos e cortantes
Percorresse
sozinha a madrugada
Esquecida
e abandonada.
É
como se nos orvalhos, desgraçados
Vestidos
de mim, arrastasse amarguraE sentisse a exigência vaga
E o suplicar longínquo
Dos perfumes desaparecidos, da Primavera.
É
como se nos meus olhos, escarpados
Salpicados
de alvuraO sol não penetrasse…
E as sombras efémeras gemendo
Não se encostassem eternamente a mim.
Telma Estêvão, in “Sob este céu azul, esta distância”, página 31,
edições Arandis Editora, Março de 2014.
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