POEMA VIGÉSIMO OITAVO
O
poema levanta o focinho para o sol
como
o fez a raposa. Agrada-lhe essa luzque pode curar as sílabas doentes.
O
poema persegue animais
de
olhos formidáveis. Nas suas coxas ágeisespreguiçam-se os músculos do dia.
Só
o poeta conhece o labirinto. Sabe
como
chegar aos limites da surpresa.E que a dor caminhará em círculos.
Quantas
páginas possui essa alegria
que
se instalou no flanco dos vocábulos,e preenche de amor todo o vazio?
Quando
o poema escolhe para si uma voz,
fá-lo
consciente da sua liberdade. Ninguémpoderá dizer: fui eu que escrevi isto.
O
texto é um país difícil. Território
onde
a linguagem caminha descalçasob a luz dos olhos do leitor. Sinto
respirar
os livros. Oiço-os segredar
um
nome para dar a essa pátria brancaonde se move a palavra inquietação.
Joaquim Pessoa, in “Guardar o Fogo”, página 59, Edições Esgotadas,
2013.
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