ERRATA
O homem principiou por amar em deus; à
medida que adolesceu sobre o orvalho julgou-o sob o pó e sentenciou-o; por
vezes desobriga-o do fogo e perdoa-o na oblação do sangue; em desespero
concebeu-se existência imprópria para a inocência do mundo: névoa por entre
névoa. Na esfera armilar das criaturas com fala (é sempre tão sublime blasfémia
um poema) deus e homem sempre principiaram por uma coisa infinitamente obscura
em sua trágica e desmesurada beleza de logro. Há criaturas tão insanas sobre a
respiração ofegante da terra, sobre a derradeira visão do axioma da rosa, da fé
que se fareja, que só se poderá revelar deus nos brancos tendões do homem, ou
sob o primeiro logro de um ímpio verso: e será só isso que lhe sobejará em sua
anomia sagrada. O homem e deus são o relâmpago do incansável caminhante sob uma
única metaphora sem haste: o ilusório
olhar do evo.
João Rasteiro, in “acrónimo”, página 28, Edições Sem Nome, 2015.
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