terça-feira, 1 de dezembro de 2015

João Rasteiro






ERRATA

O homem principiou por amar em deus; à medida que adolesceu sobre o orvalho julgou-o sob o pó e sentenciou-o; por vezes desobriga-o do fogo e perdoa-o na oblação do sangue; em desespero concebeu-se existência imprópria para a inocência do mundo: névoa por entre névoa. Na esfera armilar das criaturas com fala (é sempre tão sublime blasfémia um poema) deus e homem sempre principiaram por uma coisa infinitamente obscura em sua trágica e desmesurada beleza de logro. Há criaturas tão insanas sobre a respiração ofegante da terra, sobre a derradeira visão do axioma da rosa, da fé que se fareja, que só se poderá revelar deus nos brancos tendões do homem, ou sob o primeiro logro de um ímpio verso: e será só isso que lhe sobejará em sua anomia sagrada. O homem e deus são o relâmpago do incansável caminhante sob uma única metaphora sem haste: o ilusório olhar do evo.

João Rasteiro, in “acrónimo”, página 28, Edições Sem Nome, 2015.

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