Manuel Resende. Imagem da net.
MORRER NÃO CUSTA
3.
Na areia suguei o sumo de frutos ausentes,
Fazendo da minha boca a sua própria taça.
Na água bebi o ar que não havia.
Uma anca de areia
Sem braços, nem pernas, nem púbis,
Nem frescas axilas, nem cabelos, nem sequer pele,
Mas apenas o tacto disso.
Última fronteira! Depois de ter andado aos círculos
Numa guerra de mil anos contra um povo vencido,
Mas eternamente cercado,
O invasor entrava pelas casas adentro.
Última fronteira: a mais íntima porta dos sentidos.
Manuel Resende, in “Natureza Morta com Desodorizante”, página 55, edições Gota de Água e Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Maio 1983.
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