Paulo Henriques Britto, imagem da net.
DE
VULGARI ELOQUENTIA
A realidade é coisa delicada,
de se pegar com as pontas dos dedos.
Um gesto mais brutal, e pronto: o nada.
A qualquer hora pode advir o fim.
O mais terrível de todos os medos.
Mas, felizmente, não é bem assim.
Há uma saída – falar, falar muito.
São as palavras que suportam o mundo,
não os ombros. Sem o “por quê”, o “sim”,
todos os ombros afundavam juntos.
Basta uma boca aberta (ou um rabisco
num papel) para salvar o universo.
Portanto, meus amigos, eu insisto:
falem sem parar. Mesmo sem assunto.
Paulo Henriques Britto, in “Macau” (Prémio Portugal Telecom de Literatura), página 17, edições
Babel, 2010.
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