Fernanda Dias, foto do Jornal Tribuna de Macau (na net).
palavra
pulsão da palavra água que me sacia
ao passar pelos seios, rola garganta acima,
antes de ser poema é sussurro profundo,
é rouco arrulho antes de ser devaneio.
eu te respiro, palavra, te beijo e te saboreio
sais do meu ventre, viajas na minha pele,
mãos, braços, ombros e flanco, boca, num arrepio
para fora de mim te lançam te sacodem,
como a um suor, uma saliva, um berro
animal tão delicado, essa outra respiração
essa linfa, límpida como um riacho
que me percorre e me desaltera
e assim me lava, me redime e leva
palavra, essa outra vida que é a minha.
Fernanda Dias, in “chá verde”, página 68, edições Círculo dos Amigos
da Cultura de Macau, 2002.
Sem comentários:
Enviar um comentário