terça-feira, 6 de março de 2018

Fernanda Dias


Fernanda Dias, foto do Jornal Tribuna de Macau (na net).





palavra

pulsão da palavra água que me sacia
ao passar pelos seios, rola garganta acima,
antes de ser poema é sussurro profundo,
é rouco arrulho antes de ser devaneio.

eu te respiro, palavra, te beijo e te saboreio
sais do meu ventre, viajas na minha pele,
mãos, braços, ombros e flanco, boca, num arrepio
para fora de mim te lançam te sacodem,

como a um suor, uma saliva, um berro
animal tão delicado, essa outra respiração
essa linfa, límpida como um riacho

que me percorre e me desaltera
e assim me lava, me redime e leva
palavra, essa outra vida que é a minha.

Fernanda Dias, in “chá verde”, página 68, edições Círculo dos Amigos da Cultura de Macau, 2002.

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