Amélia Vieira, imagem da net.
[Não
ao acaso senhor dos vendavais]
Não ao acaso senhor dos vendavais. Não por acaso são
estes teus
sinais.
Eu, sem núpcias e fulgores, não tendo as chamas, também
não
quero amores.
Tu, sem a bela capital, não vedes a saudade que sinto enquanto
espero as tuas dores, chagas macias, braçadas, vigias,
que semeio
em chão diferente, nestes dias?!
Terra, bem-diz o meu poema. Renegaram-te as nascentes e
eras
fêmea. Foste desventrada das sombras do teu reino, e
agora,
transformam as fontes e a seiva.
Violeta e rósea é a saudade, como o fundo macio das
coisas graves.
Um Outono sem cio que me recobre em toda a minha
claridade.
Barqueiro de amor que me vela a sós com os beijos das
madrugadas
frias.
Sou eu o dia.
Singular desdita, tu barqueiro que me persegues e me
agita, pensa
que:
Tudo desfaço.
Pois nada em mim fica.
Amélia Vieira, in “Abril”, página 45, edições COD, Macau, Setembro de 2017.
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