terça-feira, 31 de julho de 2012

"As palavras não nascem nos cotovelos e as uvas também não"





Posso escrever ao poeta dos meus dias,
Aquele que me ensinou que a poesia não é pó de arroz
... Nem um ímpeto de palavras a jorrar no papel.


Aquele que me disse
Que é preciso deixar a palavra a fermentar na essência
Que leveda dentro do peito que espreita a vida.

Dizer-lhe,
Que hoje comecei a bordar o meu primeiro poema
A ponto grilhão
E que não é fácil desenredar as linhas
E lavrar no pano os enfeites que todos gostam…

A charrua que sulca a palavra, também a amordaça e fere
Quando a terra se enruga e se tenta beber o mar com os olhos,
Quando todos os barcos parecem desembocar no mesmo apeadeiro
Como se a visão de deus se soltasse das estrelas
Em versalhada de luz.

Dizer-lhe:
Agora começo a ter tempo
Para perceber que entre a chuva e o vento,
Há um equinócio a desbastar.

Tinhas razão – a omeleta não sabia a espargos –
E eu teimava que os tinha apanhado no campo,
Quando era apenas erva vulgar que me escorria dos dedos.

Obrigada! Vou esperar que as uvas amadureçam na videira
E cada bago que colher, terá o sabor da espera…
O bordado, vai levar tempo até ser colocado sobre a mesa!
Depois, cairá nele o vinho, a invadir as linhas do ponto grilhão!

Dalila Moura Baião

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