quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Sara F. Costa


Sara F. Costa, imagem da net.





Poemas de amor

eu sei que não vamos passar disto,
beijos sonhados em noites íntimas
inapropriadas.
sabemos que a harpa do pensamento
é uma planta que morreu
de overdose de delírio.
a vida carrega a carne e a beleza.
as pálpebras sem inocência
a privacidade de um sorriso é suficiente,
eu sei que é suficiente.
mas como é que as tuas mãos
se abstêm de sentir a água,
a beleza fecunda,
a proibição da oferta.
em que noite mataste a ave marítima do desejo,
se uma mulher nua te invadir o espírito,
se uma voz te sussurrar aos ouvidos
o fim do mundo no início do mundo,
como é que não perdes a cabeça
de onde colhes a força
se alguém te devora em pensamento.

Sara F. Costa, in “A Transfiguração da Fome”, página 60, colecção contramaré / 19, edições Editora Labirinto, Julho de 2018.     

Sem comentários: