sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Joaquim Pessoa


Joaquim Pessoa, imagem da net.





[A vida está assim]

A vida está assim: por telha aberta
chove o sangue em cima do calçado
fazendo o coração ficar alerta
não vá o mar chegar ao empedrado.

Adormecer num banco de jardim.
Sonhar coisas fugazes e ternas
deixando que alguns ratos de cetim
me subam às varizes pelas pernas.

O tempo (esse animal) sofre de anginas
e já não há sequer zaragatoas,
overdoses, sprays, penicilinas

que troquem coisas más por coisas boas
tal como não se inventam as vacinas
contra o sorrateirismo das pessoas.

Joaquim Pessoa, in “Sonetos Preversos”, página 59, edições Litexa Portugal, 1984.  

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