quinta-feira, 23 de junho de 2016

Cristina Fernandes





ACONTECES-ME

aconteces-me
por dentro da verdade eterna
de ternos sossegos – inquietude
quieta neste anoitecer orado
oração coroada dos teus braços
em mim

aconteces-me
do outro lado da dor consentida
reconhecida e consertada
neste desconserto de amar
submergida planície que guardas
em ti

aconteces-me
quando as tuas mãos laçam as minhas
luz no Éter dum bailado azulado
e abrem laços de ternura serena
quando sobrevoamos as margens
em nós

Cristina Fernandes, in “Palavras de Cristal”, colectânea de poesia, volume I, página 112, edições Modocromia, Junho, 2013.

Destino


Imagem da net, em: www.triguna.com



Na voz do silêncio
Se ouve o rigor.

Matéria de ensino
Aperto na dor,
Última soalheira
Ou agreste inverno.

Verso-poema
Em campo de abrigo,
Memórias perdidas
No fado da vida.

 
António MR Martins

quarta-feira, 15 de junho de 2016

Sam I See






17. Duas cargas elétricas iguais

Uma promessa de lágrimas e somas cruzadas em
      dividendos sem o acerto dos nove.
No retículo endoplasmático, um querer mendigando
      vontades mortas, aguardando a cuba da
      respiração celular.
E…
No conteúdo genético, a dor crua que avisa que o
      céu não desaba sem motivos em telhados de
      vidros.
No movimento da minha bílis, reconheço que, toda
      a ciência do mundo, jamais conseguirá calcular o
      resultado de silêncios que a mim de você:
Dizem no que parece um nada, todos os tubos das
      questões.

 
Sam I See, in “Postais da ponte”, página 27, série “mínima”, n.º 12, da Temas Originais, 2016.

diferenças





Imagem da net, em: www.cefuria.org.br 



ante a paciência
revoltada
a passagem à dor dormente
nas pernas entortadas
pelo desleixo
suspenso
de um manter de pé
assaz desenquadrado

na célula impertinente
onde se instaura
a amargura
por um detonar das vis feridas
implementadas
ao cerne sombrio
da sensível pele
omitida

um ambíguo rodopiar
quiçá nervoso
estabelece as nódoas
do desconforto

expectante a espera
frequenta
os meandros da impaciência

há sempre
um sentido valorativo
às vezes
desvalorizado
para quase todas as causas

para umas
mais
que para outras

 
António MR Martins

sexta-feira, 10 de junho de 2016

É Portugal, de Vítor Cintra

 
Hoje recordo aqui Vítor Cintra!...
 
Hoje Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades que se expressam em Língua Portuguesa.
 
O nosso saudoso poeta e amigo Vítor Cintra está sempre connosco.
 
Aqui, o seu poema "É Portugal", parte integrante de uma sua publicação de autor, devidamente ilustrada  com fotos de Elinde Costa, e que ele teve a gentileza de oferecer aos seus amigos pelo Natal de 2010.
 
Um abraço de infinita saudade!...
 
 

Inquietações insolúveis


Imagem da net, em: www.astuciadeulisses.com.br



Há um tempo-razão quase breve
no tempo da espera prometida,
uma promessa entrave tão leve
à brevidade do tempo da vida

Tal se poderá tecer em si mesmo
perante os desígnios da vida,
represálias sentidas a esmo
por qualquer causa não permitida.

Lúdico estar sem ter compensação
no mártir seio da imaginação
onde os sonhos declinam pesadelos.

Há um virgem-mar na profundidade
distante da nossa realidade
sem podermos desfiar seus novelos.

António MR Martins