sexta-feira, 18 de maio de 2018

Interminável raciocínio


Imagem da net.





Num vago pesadelo
assumias
a tortura da existência
no cerne
da montanha casuística
da imaginação.

Sortilégio romanceado
da inglória rejeição
num sonho com laivos
de plena inquietação.

Há um fardo
que alimenta o felino olhar
do teu horizonte
num secretismo embalado
evidente
ao falsear de um sorriso.

Num vago pesadelo
foram efémeras as imagens
e a ténue memória das cenas
atenua
a negritude desses
tão inesperados momentos.

António MR Martins

segunda-feira, 14 de maio de 2018

José Luís Peixoto


José Luís Peixoto, imagem da net.




[na hora de pôr a mesa, éramos cinco]

na hora de pôr a mesa, éramos cinco:
o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs
e eu. depois, a minha irmã mais velha
casou-se. depois, a minha irmã mais nova
casou-se. depois, o meu pai morreu. hoje,
na hora de pôr a mesa, somos cinco,
menos a minha irmã mais velha, que está
na casa dela, menos a minha irmã mais
nova que está na casa dela, menos o meu
pai, menos a minha mãe viúva. cada um
deles é um lugar vazio nesta mesa onde
como sozinho. mas irão estar sempre aqui.
na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco.
enquanto um de nós estiver vivo, seremos
sempre cinco.

José Luís Peixoto, in “A Criança em Ruínas”, página 13, edições quasi, Fevereiro 2007,  6.ª edição.    

sexta-feira, 11 de maio de 2018

Em dia de Ramos


Imagem da net.




Crescem as papoilas no campo
no amor da natureza,
aprumando-se em desaprumo,
conforme a corrente do vento,
entre as espigas dum pão,
aqui verde,
que tanto demora.

À volta das rubras flores o amarelo,
nos malmequeres da fortuna,
enquanto a sua brancura tanto rareia.

Juntam-se à vida
os ramos de oliveira,
numa paz aconchegante
e o sangue corre
nas parras da videira,
num rejubilar sem limites.

O alecrim
nunca é descurado
e o aroma envolvente
torna-se profundamente saudável.

A natureza dá-nos tanto!...

António MR Martins

sexta-feira, 4 de maio de 2018

Jaime Lopes


Jaime Lopes, imagem da net.




SONHO NÃO SONHADO

Um turbilhão de emoções memorizadas
Numa noite de paixão maravilhosa
Sorrisos, são letras incendiadas,
Que escondem uma esperança maviosa.

Nas folhas de um poema já lavradas,
Em sentimentos e em sonhos radiantes
De certezas, desenganos e instantes
No afrontamento de esperanças acabadas.

E, os sopros incandescentes do amar,
Com profundos e sublimados momentos
Bem-sonantes nas ruínas do passado…

Configuram, sonhos vazios da noite ao acordar
Nascentes, na amálgama dos pensamentos
De um sonho, sonhado, sem ser sonhado.

Jaime Lopes, in “ Memórias do Futuro”, página 38, edição do Autor, Novembro de 2016.