quarta-feira, 28 de julho de 2021

José Luís Outono

 

Capa do livro "Enredos & Outros Mares",
de José Luís Outono


RASGOS
 
espelhos provocantes
rodopiam em surdinas sem avisos
sempre em reflexos de novidades inéditas.
 
os mares multiplicam-se em questões de marés
provocantes
e o velho horizonte é uma caligrafia desordeira
onde cada rasgo de tinta azul
golpeia o impensável
e os ombros cansam-se do constante adorno
e hesitante emenda.
 
ouço um grito – agora ou nunca.
 
e a agulha do gira-discos rasga mais uma estria
da filosofia da conveniência – talvez amanhã ou depois.
 
até os sinos precisam de maestros coerentes
não vá a pauta corromper-se
e as claves adormecerem em rasgos hesitantes.
      
José Luís Outono, in “Enredos & Outro Mares”, página 20, colecção 100Prosa, edições 100 Títulos (uma chancela da editora Edições Esgotadas), 2021.


sexta-feira, 23 de julho de 2021

Emergentes envolvências

 

Imagem na net.


Os sons colhidos na noite
enformam o sentido às coisas
onde habitam
todos os pressupostos da vida.
 
Surgem rasgos proeminentes
que fazem salientar
as inerentes relevâncias.
 
É na chegada das noites
que os hálitos se confundem
num beijo pela desejada sedução
preâmbulo de todos os sentires.
 
Assim se apoiam os condimentos
irracionais
expostos em desalinho pelo prazer
sem qualquer esquema preparado
ou alguma vez equacionado.
 
Das nossas mãos vazias
surge a dádiva suprema
de tudo aquilo que somos capazes.
 
Um turbilhão de pensamentos
impensados
envolve a tensão palpitante
daquele empolgante desbravar.
 
Vejo então
no brilho dos teus olhos
o desabrochar de um verso
com o verbo amar sempre presente.
 
 
António MR Martins

quinta-feira, 15 de julho de 2021

São Silveirinha

Capa do livro "Outras liberdades", de São Silveirinha.

 


ENLEIOS DE AMOR
 
Quero gravar-te
nas pedras da calçada.
Beber em ti
a candura da madrugada.
 
Lançar ao alto
o pólen que é teu.
Acender-te no luar
e iluminar o intenso breu.
 
Quero ser jorro de ti.
Verter-me na breve mirada…
 
De braços esticados,
receber-te lentamente
na voz do povo, da minha gente!
 
Calcorrear contigo esta estrada,
construída de alegres alvoradas.
 
Ah! Que o tempo mergulhe
no rio da saudade
(último reduto dos apaixonados)
e te permita fluir em liberdade!
 
São Silveirinha, in “Outras liberdades”, página 66, edição de Autor, 2019.    

quinta-feira, 8 de julho de 2021

Fecunda encruzilhada

Imagem na net.

 

Foi na noite dos sonhos perdidos
que se moldaram os ávidos corpos
no mais perfeito imaginário
sob a visão soberba
da rara luz plena de graciosidade
 
resplandeceram sorrisos
e o aconchego da pele
sediou-se em propósito sedutor
ante os ténues arfares
sentidos mutuamente
no recôndito silêncio das conchas
 
os cabelos rolaram sobre as faces opostas
e as bocas tocaram-se levemente
surgindo as primeira gotículas
de um esperado transpirar
 
as mãos movimentaram-se
pelas curvas expostas nos lençóis
de todas as memórias
e as novas conquistas almejaram
mais episódios
para aquela sortuda contextualização
 
surge o desarme de todas as fronteiras
e o mastro harmonioso assume
as reentrâncias do túnel de todo o prazer
 
há uma luz intensa e profunda
que sublima gradualmente
aqueles inolvidáveis momentos.
 
 
António MR Martins