sábado, 25 de dezembro de 2010

Há um abraço para ti que te quero ofertar

Há um tempo do tempo
Que tenho para te dar

Há uma filhós que aloira
No seu suave fritar

Há uma réstia de esperança
Para uma vida de encantar

Há uma luz que nos prende
Para nesta época festejar

Há um amigo do peito
Que está connosco noutro lugar

Há a razão de um destino
Que procurámos alcançar

Há um sentido da vida
Que não queremos amordaçar

Há a fome que invade
E se tende a atiçar

Há um presente que espera
Pelo ávido desembrulhar

Há o sorriso da criança
Impossível de igualar

Há uma família compacta
Separada pelo processar

Há um abraço enorme
Que não conseguimos quantificar

Há uma estrela cadente
Que não pára de brilhar

Há um menino que nasce
Que veio ao mundo para nos salvar

Há tanta gente na Terra
Que não se consegue libertar

Há uma mente que pensa
A forma de elogiar

Há uma mão que cumprimenta
Não se querendo emocionar

Há um coração que saltita
Com a ânsia de poder amar

Há um amigo que espera
O momento de o abraçar

António MR Martins

2010.12.23 (Natal/2010)

Para todos os meus amigos

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

CRIANÇA

Não semeou o trigo
A lágrima secou

Olhos acordados
                           [vidrados]
Ausência de vida
                           [Esperando]
Criança
Não te vás!

Manuela Fonseca

in livro "Poesia sem remetente", edições Temas Originais


Coesão



Dedicado a Marília Inácio
pelo seu aniversário – 2010.12.10








Na espera, o passar de um tempo,
esfumado entre quimeras e abraços;
vestígios ruins em contratempo
na fortaleza da amizade e seus passos.

Passaram muitos anos por nós,
num abraço que contempla o mundo;
de nós ergueu-se, sempre, a voz
num apelativo sentir profundo.

Abraçar-te, amiga, aqui e agora,
em tempos de frágil esperança,
neste viver sem ter o troco.

Fortalecida a amizade se demora,
como simples sorriso de criança
perdido neste mundo tão louco!...


António MR Martins

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Lançamento do livro de poesia "Poesia sem remetente", de Manuela Fonseca - 11 de Dezembro de 2010

No próximo dia 11 de Dezembro, ocorrerá no Auditório do Campo Grande, 56, em Lisboa, o lançamento do livro de poesia "Poesia sem remetente", da autoria de Manuela da Fonseca, pelas 19H00.

Obra e autora serão apresentadas pelo poeta António MR Martins, ou seja eu mesmo.

Vai ser uma tarde de grande empatia com a palavra, a poesia e a amizade, até porque terá lugar às 16H00 o lançamento de um outro livro de poesia, sob a chancela da mesma editora, a Temas Originais, "Aprendiz de Poeta", de Emanuel Lomelino, com a apresentação do grande e multipremiado poeta Xavier Zarco.

São motivos mais que suficientes para que possam passar uma tarde diferente, mas de enorme qualidade em plena interacção com a boa poesia e com a palavra.

Se puderem, aparecem!

São todos bem vindos!

permanecer

agora possuo-te.
não me perguntes como
nem em que lugar de mim

amanhã
quando abrir a minha mão e a sentir
vazia
quando contemplar o meu coração
e o encontrar


olharei o mar
esperando ver-te na curva alongada
do horizonte.

Teresa Brinco Oliveira

Sou não sendo aquilo que sou

Sou carinho despenteado,
rubor da tua pele,
áurea de felicidade
e carisma de idoneidade
em traço que não gele
um clamor descontrolado.

Sou beijo despoletado,
remetido à boca cheia,
em sentido figurado.
Preso à tua ameia…
o veneno que incendeia
o teu retrato idolatrado.

Sou o sentido que te alheia
e te cobre noutra remessa,
na boca que te nomeia
actriz da minha peça,
punhado de sensações
e partícula de multidões.

Sou o abraço que te afaga,
o sorriso que não contesta,
o ser que te não larga
e o sinal em tua testa.
Por vezes a trave mestra
e outras a matéria que resta.

Sou a envolvência do sentido,
actor em tua festa,
a fuga ao prurido
e o amor que te atesta,
o conto do fiel bandido
que amiúde se detesta.

Sou a vértebra do ciúme
em estrutura cambiante.
No inverno o teu lume
em prisma ofegante.
Também o teu queixume
num verão assaz brilhante.

Sou a réstia da bonança,
degustação do amor,
na paixão a aliança
e o clamor pleno da dor.
O olhar de uma criança
o nosso supremo valor.

Sou suspiro de uma maleita,
a coragem que de ti desperta,
pela nossa paragem estreita
nesta caminhada incerta.
O charme que se aceita
no dealbar da descoberta.

Sou o simples pressuposto,
miragem ou acalento,
de semblante bem disposto
e outras menos atento,
que não foge com o rosto
a simples descontentamento.

Sou o simples batimento
de um coração já cansado,
que omite o lamento
pelo qual é fustigado.
Que tem o maior provento
no sentir-se sempre amado.

Sou a mescla consentida
de uma qualquer existência,
por vezes muito apetecida
outras tida por paciência,
que de forma esbatida
define qualquer vivência.

Sou humana semelhança,
pretexto de decisão
em valiosa pujança,
ou simples contradição,
que na plena exactidão
acentua a sua esperança.

Sou raio de humildade,
fogosidade perdida,
rastreio da capacidade
que alimenta a nossa vida.
Um misto de verdade
numa mentira contida.

Sou homem e tu mulher,
conflito de gerações,
na razão que se tiver
sem desculpas e perdões.
A fraternidade que se quiser
em quaisquer ocasiões.

Sou horizonte profundo,
rio sem ter caudal.
Um habitante do mundo
no país de Portugal,
sujeito a moribundo
deste aperto universal.

António MR Martins

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

AS FONTES

Um dia quebrarei todas as pontes
Que ligam o meu ser, vivo e total,
À agitação do mundo do irreal,
E calma subirei até às fontes.

Irei até às fontes onde mora
A plenitude, o límpido esplendor
Que me foi prometido em cada hora,
E na face incompleta do amor.

Irei beber luz e o amanhecer,
Irei beber a voz dessa promessa
Que às vezes como um voo me atravessa,
E nela cumprirei todo o meu ser.

Sophia de Mello Breyner Andresen

in livro Obra Poética, Poesia, edição definitiva, da editora Caminho (página 54)

Salgam os olhos do mundo

Salgam os olhos das crianças
No verter das lágrimas da fome
E no arremesso do seu desespero

Salgam os olhos de suas mães
Na pobreza que lhes deu nome
Perante o mundo cruel e austero

Salgam os olhos do suplício
Envolvidos pela dura tristeza
Que lhes enevoa o simples pranto

Salgam os olhos do sacrifício
Vilmente hostilizados pela avareza
Que se torna cancerosa como amianto

Salgam os olhos da igualdade
Pelas diferenças patentes ao mundo
Que os poderes jamais tentam igualar

Salgam os olhos da verdade
Por todo o pobre moribundo
Que a sociedade tenta condenar

Salgam os olhos dos pacientes
Desesperando pela cura
Que tanto tarda em lhes chegar

Salgam os olhos dos oprimidos
Pela liberdade que não dura
E faz seus movimentos condicionar

Nas crises das economias
Se fomentam as descrenças
Embelezando democracias
Que apoiam indiferenças
As leis criadas são lotarias
Pobreza e fome são doenças

António MR Martins

foto in RF Royalty Free, na net

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Apresentação do livro "Jogos de Perfídia", de Maria de Fátima Gouveia, em Figueiró dos Vinhos - 29 de Novembro de 2010, 17 horas

O extraordinário romance "Jogos de Perfídia", de Maria de Fátima Gouveia, sob a chancela da Temas Originais, terá a sua apresentação em Figueiró dos Vinhos, no próximo dia 29 de Novembro, pelas 17 horas, na Biblioteca Municipal Simões de Almeida (Tio), pelo que aqui se solicita a presença de quem quiser usufruir de bons momentos com a palavra escrita. Esta obra é magnífica e capaz de trazer o leitor a uma ávida leitura, pelo interessante conteúdo da obra e da forma, exemplar, de como é escrita.

Um outro pormenor (mas de somenos importância), sou eu que vou apresentar este excelente livro.

Embora o dia, e a hora, não sejam os melhores para uma sessão desta qualidade, no que concerne à obra em questão, se puder apareça.

Será bem recebido.

Bem haja


A JAULA E AS FERAS

Centos de doidos vivem nesse hospício
(Quem no diria, olhando cá de fora...?!)
E o portão dança já no velho quício,
Dança, e faz entrar mais a toda a hora.

Trazem todos um sonho, um crime, um vício,
Foram imperadores longe, outrora,
E em seus rostos de espanto ou de flagício
Não sei que ausência atroz me comemora.

Faz medo e angústia olhá-los bem nos olhos;
E, lá por trás de grades e ferrolhos,
Estoiram de ansiedade desmedida.

- Meu corpo, ó meu hospício de alienados!
Abre-te aos meus desejos enjaulados,
Deixa-os despedaçar a minha vida!

José Régio

in livro "Cântico Negro" (Antologia Poética), Selecção e organização de Luís Adriano Carlos e valter hugo mãe e Estudos introdutórios de Luís Adriano Carlos, na página 42, 1ª. Edição, Setembro 2005, edições Quasi.

Perturbações e envolvências

Me perturbam
Os desleixos
De um sentir descontrolado
Como simples desaforo
E algo inusitado

Me perturbam
As raízes
Das ervas assaz daninhas
Que ágeis se enroscam
Na mais pura das andorinhas

Me perturbam
Todos os seres
Deveras conflituosos
Que tendem a aniquilar
A fim de ficar famosos

Me perturbam
Os múltiplos lixos
De sentido desviado
Que se juntam a todo o coro
Mesmo sem ser ensaiado

Me perturbam
As meretrizes
Culto de muitas rainhas
Que omitindo não evocam
O fulgor de suas vinhas

Me perturbam
Os maus quereres
Mesmo que subtis e airosos
Que fazem inflamar
Vários factos e pressupostos

Resta então compensar
A luz dum grande valor
Na estrada que iluminar
E pelo sentido do amor

Num gesto o vou registar
Te entrego uma única flor


António MR Martins

imagem in http://outrapartedemim.blogs.sapo.pt/8843.htmil, na net

sábado, 6 de novembro de 2010

ESSES AMORES....

Esta noite experimentei o sabor dum beijo, navegando no secreto desejo acorrentado,
ao medo de ficar presa ao passado.
Lembrar amores antigos desgovernados,
é como desfolhar rosas, matar sonhos...
Nosso espírito volteia no tempo e na ilusão,
transformando doces quimeras em paixão.
Um sentimento que corrói o nosso direito a voltar,
a sentir outra emoção igual. Porque a metamorfose
dessa doce mentira, numa excitante verdade…
Nos faz cativos dela para a eternidade.

Maria de Fátima Gouveia

Vestes outonais

São pétalas de secura
Levadas pelo vento
Em pesos de melancolia

São folhas ao abandono
Sem eira nem beira
Perdidas sem ter sono

São aves que partem
Para terras de origem
Na presença das nuvens

São tempos de loucura
Onde ventila o lamento
Em demorada ventania

São o aloirar do trono
Das folhas em madeira
Ao sair do mês nono

As ilusões se abatem
Na chegada da fuligem
No Outono dessas origens

Este frio nos carrega
Para a quietude do lar
Neste Outono que chega
Com lareiras a crepitar

A cama nos aconchega
No conforto do deitar

António MR Martins

imagem in http://orizamartins.com/ (Sinfonia de outono), na net

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

UMA TARDE DE OUTONO

Uma tarde de Outuno,
um rio que descansa
nos braços abertos
da ria deitada em lençóis
brancos de sal e maresia.
Uma esplanada em abandono
e a amizade que acontece.
Um olhar, um sorriso,
confidências de fim de dia,
sentimentos que permanecem
na louca voragem
da ventania.
O Inverno que chega
cristaliza as águas da ria,
sentimentos que adormecem
nas noites longas
até ao raiar do dia.

Conceição Gonçalves

in livro "Longos são os Caminhos", página 51, III- a Viagem, edições Edium Editores

Carícias de amantes

Na maciez de sua pele
encontra o antídoto;
à rasteira que repele,
e jamais lhe sai do goto.

Um toque de subtileza
se espraia sem rigor…
desfrutando da beleza
num jeito bem sedutor.

São toques de ansiedade
em gestos bem carinhosos,
a par disso, tão excitantes.

Plenos de cumplicidade,
os afagos calorosos,
dos eternos amantes!...


António MR Martins

imagem in http://uketag795.blogspot.com/ (Amar sem restrições), na net

Sortilégio...

Sortilégio do Ser
este simples Acontecer
Magia de Alquimista
que transmuta em Amor
o sofrer...

Da lágrima
se faz diamante
bálsamo penetrante
Do gesto
orvalho do Bem Querer
Do pensamento
palavra inebriante
que acalenta a alma
se faz Profecia
em cada nova poesia
no Ser que é gente
Anjo de Amor a acontecer...

Ana Fonseca Sousa

Paixões, afectos de todos os tempos

Num porto que foi de abrigo
E suporte de calmarias
Se interiorizaram afectos

Foram recordadas situações
De euforias de outrora
Que perduram nas memórias

Naquele local por castigo
Se expuseram sabedorias
Exteriorizando seus aspectos

Num restauro de condições
Neste presente que se demora
Nas presumíveis dedicatórias

Quando as águas são passadas
Os moinhos já não movem
Mas as paixões recordadas
São passos de quem é jovem
Muitas delas idolatradas
Por todos os que as provem

Num porto de quem abdica
As consequências da vida
Pelas mais diversas razões

Onde a imagem já perdida
Em conceito inexistente
Desses tempos sem fulgor

Nesse abrigo ninguém fica
Suspenso pela despedida
Sem tecer as conclusões

No ofuscar da coisa querida
Que conquistou toda a gente
Na paixão em que se é actor

António MR Martins

imagem in Design Pics - RF Royalty Free, na net

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

no teu verso

vi o teu verso solitário frente ao mar
altivas ondas cobriam a costa
e o horizonte do seu olhar
estava aquém da subtil linha
onde se constroem sonhos.

vi o teu verso obscurecido
olhar o mar em rebentações fortes
e as nesgas de areia cansadas
suportando resignadas
os salpicos de espuma branca.

vi o teu verso afastado de ti
a olhar de longe a neblina
que sem pudor enroupava o molhe.

e as gaivotas planavam...
tão poucas...
tão vadias!

no reverso do teu verso
despontava um sol
com odores de madrugadas
e um sorriso num olhar de inquietação
por manhãs claras.

e as gaivotas planavam...
e eram tantas...
tão vadias!

Teresa Brinco Oliveira

Infinitos pensamentos

Passam pensamentos nas mentes
Que ninguém ousa inventar

Em algumas um tanto dolentes
Noutras ágeis de precipitar

Pensamentos bem maldosos
Resquícios de ódios e vinganças

Outros benfazejos e bondosos
Fortalecedores de uniões e alianças

A fertilidade da mente humana
É infinita no seu congeminar

Seja de índole bem urbana
Ou de ruralidade o seu pensar

Também as há bem doentes
Com múltiplas coisas para ultimar

Passam pensamentos nas mentes
Que ninguém consegue revelar


António MR Martins

Imagem in Brand X Fotografia - RF Royalty Free (pensando, orangotango), na net

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Prisão eterna

Olho-me no espelho sem me reconhecer
nada do que vejo é reflexo do meu ser
quão embaciada pode uma imagem ficar
não vislumbro o que tanto me atormenta
mas é desta dor que meu corpo se alimenta
do que me consome não me consigo libertar

Caminho pelas ruas desertas deste mundo
palmilho um destino com desgosto profundo
e não há fuga possível desta minha prisão
sou castigado pela minha atitude cobarde
por ter falado de sentimento muito tarde
e na hora devida, ter calado uma paixão

Sofro por um destino cruel, auto-infligido
por uma torpe e vil timidez fui acometido
assim perdi a oportunidade de ser amado
pelos dedos deixei fugir a minha felicidade
mesmo não mentindo, ocultei toda a verdade
e para sempre ficarei preso ao meu passado

Emanuel Lomelino

Suspiros de amor

Cai-te um suspiro da alma
Pelo qual não me desapego

Suspiro que te traz calma
Em ritmo que não sonego

Cai-te a réplica do mesmo
Num sentir mais profundo

Salpicos proferidos a esmo
Sustentáculo do nosso mundo

Cai-te uma lágrima sentida
Em sentires que são intensos

Pela simples felicidade vertida
E dos suspiros a ela propensos

Cai-te um sorriso maroto
E um gesto assaz traquina

Como saída de totoloto
Na tabacaria de qualquer esquina

Cai-te a rubor da face
Como um intenso clamor

Não há suspiro que disfarce
O puro sentido do amor

António MR Martins

Imagem in http://manoelvirgilio.spaces.live.com/ (na net)

domingo, 31 de outubro de 2010

Chovem teus olhos fechados


Hoje subi aos céus,
águia de asas empenadas
pelo tempo da espera.
Hoje, porque chovia
a tua imagem no meu peito.

Cruzei-me com os ventos
que traziam os nossos momentos,
nos braços,
crianças órfãs
de duas aves que não têm chão
onde poisar.
Cruzei-me com os desejos
que ficaram no ar enquanto te lia.
Cruzei-me com o calor,
que recordava, do teu corpo enquanto poesia.

Hoje subi aos céus
de peito aberto para amar,
numa esperança, um tanto louca…
….de te encontrar.

Chove a chuva, chove o desejo, chove o tempo…
... chovem teus olhos fechados, no meu pensamento.

Vanda Paz

Palavra perdida

“Plágio ou morro agora”

Morro agora
Com a palavra que não foi escrita

Morro do nada
De uma morte não anunciada
Mas avisada

Morro temente
Pela palavra que não foi dita

Morro de morte abismada
Por ser prenunciada
Sem ter sido editada

Morro da morte que demora
Tal como a palavra se aflora

Mas não morro
De morte morrida

Não morro de efémera ferida

Morro da vida
Pela palavra que não foi definida
No mesmo sítio
Onde a palavra se encontra perdida

António MR Martins


Dedicado ao escritor e poeta amigo José Ilídio Torres, que morre inúmeras vezes pelo renascer da palavra
------------
imagem in http://coisasque-euvi.blogspot.com/ (na net)

sábado, 30 de outubro de 2010

Roubaram a palavra pela calada

Roubaram a palavra pela calada
Meteram-na num saco de juta
Venderam-na quase d'enfiada
A um qualquer filho da puta

Vestiam-se de pantomineiros
Havia gente da política disfarçada
Todos queriam trinta dinheiros
Pela liberdade que nos foi roubada

Os dias ficaram sem ela banais
Não podiam agora ser escritos
Os começos órfãos dos finais

Que por não poderem ser ditos
E lhes sobrarem dias iguais
Andavam os deuses quase aflitos

José Ilídio Torres

in livro " Os poemas não se servem frios" (página 6), edições Temas Originais

Urge suprir dificuldades

Nessa esperança mungida
à luz vindoura, germinada,
onde desponta uma saída
para o reencontro da estrada.

Alimento de qualquer ego,
ansioso por boas novas…
a esse sortilégio me apego,
cantando as minhas trovas.

Regurgitar as incoerências
não nos leva a ponto algum.
Onde caminham as essências?

Reneguem-se as prepotências,
um por todos e todos por um,
definam assim as competências!...


António MR Martins

imagem in Fotosearch Banco de imagens - RF Royalty Free (na net)

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

os cascos da D. Certinha


é fácil ver isto, ela tem cascos em vez de mãos e pés,
é fácil ver isto, os passos dela são certos na calçada,
é fácil, ter que a ver, lá isso é.

mais fácil ainda é comer da sua carne, é barata e acessível - no meu talho as costeletas estão com promoção.
todos dizem: que emoção! eu quero o seu coração!
Eu a sua mão!

Santos Almeida

A fuga do único prazer

Entoaram melodias
Em vozes de desencanto

Recorreram a feitiçarias
Para desanuviar o seu pranto

Foram trazidas à tona
As imagens já esquecidas

E o ser que já ressona
Vê-as às escondidas

É tempo de restaurar
Os campos do seu bem-estar

Pela chuva que neles cai
O seu sonho assim se esvai

Acordado do desalento
Busca então outro lugar

Na razão daquele momento
Onde se sente alagar

Já todas as melodias
Decidiram abalar

Ficou uma única música
Que não nos consegue alegrar

António MR Martins

Imagem in http://www.baixaki.com.br/ - Um dia de chuva em Paris.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Um Sol de Meias-Luas

Na selva densa da minha solidão
Vejo-me nua, sem eira nem beira
Sou ilha deserta, mas mulher inteira
Submersa nas águas da desilusão

Soletro nomes que me vêm à mente
Na busca constante da identidade
Contra a amnésia procuro a verdade
Esqueci o passado vivo no presente

Vagueio sem memórias até me encontrar
Que espécie serei, mulher sem idade?
Ou poeta que vive sempre a sonhar?

Visto de alvoradas e versos de amor
Em mim um sol de meias-luas
Quem sabe o meu nome não é Leonor?

Fernanda Esteves

in livro "4 Folhas de 1 mesmo Trevo", edições Temas Originais

Nota: Este é um romance que retrata factos de vidas, talvez fictícios, talvez não. Todavia há uma Leonor no seu conteúdo. Quem será ela? Há também poesia nesta obra, plena se sentires e sentimentos. Este é um livro que recomendo à leitura.

Quem se lixa é o mexilhão

Se amedrontam os incapazes
Pelas capazes formas

Se não toleram os eficazes
Pelas ineficazes normas

Se remendam os conceitos
Mesmo cheios de defeitos

Se imitam todos os jeitos
Como se fossem perfeitos

Se ultrajam os valores
Sem quaisquer pudores

Se rasgam cobertores
Esquecendo os seus amores

Se omitem as verdades
Em todas as realidades

Se enfurecem os doutores
Que depois levam louvores

Se esganam os perdidos
Por terem sido substituídos

Se esmeram os infractores
Por não se sentirem devedores

Os outros
Pagam tudo
Para não terem dissabores


António MR Martins

imagem in SoFood, RF Royalty Free, na net

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Tu, não és ela mãe

…E depois, mãe, fui descobrindo
Que já não eras tu que eu sabia
Nem eras ela
Aquela que nunca amei
Perdi-me...

Reli as tuas cartas, mãe
Como um manual feito em liberdade
Num quarto esculpido
De sombras obrigatórias
Despido de luares

Não és tu, mãe, eu sei...

Mas os teus queixumes
Os teus receios
As tuas lágrimas
Que me caíam no rosto
Cercadas de prenúncios
Com quem ainda me cruzo
Afrontam-me a tua memória

Tu não és ela, mãe...

Vou deixar o sossego do tempo
Secar as lágrimas que ainda alimento

Manuela Fonseca

Meu poema, publicado na edição do jornal "Hoje Macau", de 27 de Outubro de 2010

Na edição nº. 2238 do jornal "Hoje Macau", na rubrica Raio [X] (na habitual página 13), foi publicado o meu terceiro poema neste diário macaense, em língua portuguesa.



sexta-feira, 22 de outubro de 2010

ODE

Escrevem os pés
quando andam
pelo asfalto

árvores escondidas
entre o betão choram
lágrimas festivas

silêncio não existente
é atingido
por uma flecha
cristalizada

a vida encontra
por
alguns minutos
a resposta para
a avisada morte
e
os pés sorriem
por terem encontrado
outra finalidade

Maria do Rosário Loures

in livro "Atlantikblau und Olivengrün" (Do Atlântico Azul ao Verde das Oliveiras), edição bilingue, com a chancela Edium Editores

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Mais um meu poema publicado no jornal macaense "Hoje Macau"

Mais um poema meu foi publicado no jornal macaense "Hoje Macau", na sua rubrica Raio [X], na habitual página 13. Foi na edição nº. 2231, de 18 de Outubro de 2010.
Mais um grato momento.



sexta-feira, 15 de outubro de 2010

A razão do tempo...

O tempo!!! O que é o tempo?
Será que é eternidade,
ou apenas um momento
pequeno sem ter idade...

O tempo é como o vento,
passa em sua velocidade...
Para quem não estiver atento,
se perde na imensidade...

São momentos sucessivos,
de modéstia ou de vaidade,
de dor ou de felicidade...

Sentimentos permissivos,
que em sua sucessão
fazem do tempo a razão...

António Boavida Pinheiro

in livro "Poemas ao correr da pena...", edições Temas Originais

beirais

o grão
que a asa
culmina
se vislumbra
na ave

cantada pelo bico
a melodia
temperadora

um cismar
esvoaçante
que nesse voar
se grave

num voo
sem adoçante

António MR Martins

imagem in http://www.barrento.com/ (Andorinha-dos-beirais), na net

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Heth

Jerusalém despida,
a prostituta que serve e suspira,

é desprezada pelos que a honraram
com as mãos lúbricas
e públicas carícias.

Abre as coxas cidade instável!
Que o aloendro arome e o mel escorra
em todos os que te tocam.

Jacob Kruz

in livro "Breviário Lamentoso", edições Temas Originais

helicópteros

pela hélice
do helicóptero
se desvanece o perdido

voam os desperdícios
pela aterragem soberba

as aves
se afastam
num assustado voo

todo
o resto fica
em permanência

ao levantar voo
sucede o inverso

mas nada fica
como antes

António MR Martins

imagem in http://galeria.wintech.com.pt/ (na net)

Flores do Silêncio

Diante de tantos silêncios
Brotou no meio do meu peito
Um pé fresco de saudades
Semeado de um verso mudo
Que sem querer você plantou...

Na ausência de poemas
Aproveitei as lágrimas
Com elas molhei a argila
Fiz uma coroa marrom
Para as flores das saudades.

Betha M. Costa

Inalcançável espera

Há um pedaço de mim,
perdido na amargura do quotidiano.

Um estado de não sentir…
os traumas que me invadem o ânimo.

Há a razão que não se entende
neste intrépido reboliço do meditar.

Um raiar diferente, do comum,
neste desconsolo tornado tão presente.

Há um ponto de luz…
do qual não encontro o paradeiro.

Um passo jamais dado,
na paragem de todos os sentidos.

Há a esperança!… A esperança?…
mas essa há sempre…
na existência de cada ser humano.

Só que,
muitas vezes,
não se consegue alcançar!...


António MR Martins

imagem in WestEnd61, RF Royalty Free, na net

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

FRAGMENTOS DE MIM - A MENDIGA

A MENDIGA

Me entristeceu,
Aquela linda rapariga
Que hoje vi, feita mendiga
Pedindo esmola em plena rua.
Tão jovem, talvez pura...
Teve sonhos, certamente
E agora sua vida é tão nua!
O que aconteceu à sorte sua
Que à lama foi arremessada,
E sem saber, tão malfadada ?
A sua luz agora é um deserto,
A cama, o canto escuro que estiver mais perto,
O único calor que recebe, é o da lua...
Na vida não terá nada mais certo,
Senão a negra sina,
Cuja dôr não se atenua !

Lita Lisboa

domingo, 10 de outubro de 2010

Um meu poema publicado no jornal macaense (emitido em língua portuguesa) "Hoje Macau"

Este poema foi publicado no jornal diário "Hoje Macau", oriundo do território de Macau (China), na sua edição de 6 de de Outubro de 2010, nº. 2223, na sua rubrica Raio [X], página 13.
Enviei três dos meus poemas, por mail, ao jornal com esse propósito e responderam-me, pela mesma via (na véspera), que este iria ser publicado e os restantes ficavam agendados, para o mesmo efeito.
Foi um prazer enorme, até porque este jornal é onde o meu filho, Gonçalo Lobo Pinheiro, está a trabalhar e ele não tinha conhecimento desta minha acção. Só depois da informação do redactor em questão, lhe dei a informação. Facto que ele muito gostou.
Resta indicar que houve um pequeno lapso na transcrição do título (nome) do poema, que é "Viver a vida morrendo de amor", mas não faz mal. Foi um bom momento no meio das tristezas que amiúde vão surgindo.
Quer se queira, ou não, é uma internacionalização.
Fica aqui o respectivo registo.  




sábado, 9 de outubro de 2010

Canto

Canto o amor com sílabas de sol.
Deixo que o som das palavras de misture com as notas da pauta da vida e canto em conjunto com as estrelas.
Canto o brilho da saudade que ignora a razão mas aperta o meu coração e deixa livre a minha dor de te ver partir.
Deixo que os teus braços permaneçam presos á minha ilusão e canto o nosso amor para não te ver fugir.
Não amor não fujas, porque eu canto o teu rosto que sinto suave colado ao meu porque eu deixo pintar o segredo que a nossa Lua escondeu.

Canto ao Mundo este amor profundo,
Canto em silêncio este amor ao Mundo.
Deixo os teus olhos serem testemunhas da minha boca, Deixo o teu respirar ser o meu arfar. Por isso te canto, por ti suspiro, por isso te quero, por ti eu sinto, por isso te escrevo, porque te pinto, por isso aprendo, para isso sofro, por isso choro porque te observo, por isso te adoro, por isso fecho os olhos e me deixo ser só para ti.

Canto de ti para ti e sobre ti.
Canto para te fazer feliz, canto para te despertar, para te acordar, para te amar porque me fazes sonhar, canto só para te dizer que me fazes feliz.

Ana Lopes

ESTA É A MINHA 400ª. POSTAGEM NESTE BLOGUE "POESIA-AVULSA".

Dancing in the rain (Dançando à chuva)

No apelo ao movimento,
compassado com a música,
no vigor de qualquer dança.
Ou no harmonioso portento,
de tornar coisa pública
o modelar duma faiança.

Ou em gestos sensuais
coreografados a preceito,
a par da melodia escolhida.
Pelos ritmos sempre iguais,
no mais valioso jeito
de uma salsa destemida.

Na nobreza do árduo tango,
numa perícia de contornos,
e na troca de subtis olhares.
Em contraste ao luso fandango
ou à valsa de belos adornos
para diferentes festejares.

Temos o samba tão tropical
ou uma qualquer bossa nova,
dançadas ao trincar duma uva.
Melodias sem ter rival,
mesmo em canto de uma trova
ou de “slow” dançado à chuva.

Sãos os corpos em ebulição,
em concursos bem diversos
pelos quais nunca competi.
Sempre ao rubro a sensação,
no ritmo destes meus versos
ou no dançar de Gene Kelly.

Chove agora neste local,
ao compasso da natureza,
e ninguém à chuva dança.
Neste imenso Portugal…
resta-nos uma única certeza:
- Esta andança já nos cansa!...

António MR Martins

"Dança da Chuva", foto de Italo Setti, da Galeria Pública "Gentes e Locais", in http://olhares.aeiou.pt/danca_da_chuva_foto636152.html (na net) 

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

No teu olhar

No teu olhar descubro-me
E desnudo-me mais
A cada novo dia,
Como se nascesse de novo
E me guiasse apenas
Pela suavidade dos gestos
Que colocas em cada carícia.

Deixo-me ir,
Abraçando apenas o futuro,
E esquecendo
As pedras pontiagudas
Que pisei, descuidada.

Envolvo-me nas palavras
E bebo dos teus lábios
Doces, mágicos,
E grito sem medos

Amo-te!

Vera Sousa Silva

in livro " Amar-te em Silêncio", edições Edium Editores 

Lealdade não é a verdade

Conheço os meandros da história
Com que ousas ludibriar meus intentos
Numa sofreguidão continuada

Conheço os pressupostos da mesma
Pelas causas mais disformes e perplexas
Mas que jamais esquecerei

Conheço as memórias lembradas
Que de num continuar consecutivo
Me assolam o recôndito lugar da mente

Sei da maneira ilusória
E dos gestos assaz violentos
Tentados no sentido de me levar à cilada

Sei dessas folhas em resma
Onde os veredictos estão em outras anexas
Contra as quais sempre me preparei

Sei das palavras exultadas
Depois escritas em papel no esquecido arquivo
Pelo seu conteúdo sobremaneira repelente

Assumindo a verticalidade
Num acto tão concludente
É fortalecer qualquer verdade
Pelo que ela tem de evidente
Discernindo-a da lealdade
De força bem convincente


António MR Martins

imagem in http://www.embuscadaverdade.blogger.com.br/ (na net) (topo de blogue)