terça-feira, 31 de julho de 2012

"As palavras não nascem nos cotovelos e as uvas também não"





Posso escrever ao poeta dos meus dias,
Aquele que me ensinou que a poesia não é pó de arroz
... Nem um ímpeto de palavras a jorrar no papel.


Aquele que me disse
Que é preciso deixar a palavra a fermentar na essência
Que leveda dentro do peito que espreita a vida.

Dizer-lhe,
Que hoje comecei a bordar o meu primeiro poema
A ponto grilhão
E que não é fácil desenredar as linhas
E lavrar no pano os enfeites que todos gostam…

A charrua que sulca a palavra, também a amordaça e fere
Quando a terra se enruga e se tenta beber o mar com os olhos,
Quando todos os barcos parecem desembocar no mesmo apeadeiro
Como se a visão de deus se soltasse das estrelas
Em versalhada de luz.

Dizer-lhe:
Agora começo a ter tempo
Para perceber que entre a chuva e o vento,
Há um equinócio a desbastar.

Tinhas razão – a omeleta não sabia a espargos –
E eu teimava que os tinha apanhado no campo,
Quando era apenas erva vulgar que me escorria dos dedos.

Obrigada! Vou esperar que as uvas amadureçam na videira
E cada bago que colher, terá o sabor da espera…
O bordado, vai levar tempo até ser colocado sobre a mesa!
Depois, cairá nele o vinho, a invadir as linhas do ponto grilhão!

Dalila Moura Baião

súbitas mudanças


Kaiping (China), by Gonçalo Lobo Pinheiro


já o largo se esvaziara
do sonho da descoberta
e da partilha das sensações

todas as imagens
permaneciam acesas
e ainda não se sentia a transformação

quando
a um dado tempo
nos situamos em nós
e sós
então descortinámos

há um vaso comunicante
entre o pleno e o vazio

António MR Martins

segunda-feira, 23 de julho de 2012

CAMINHOS VEDADOS




Repouso nesse encontro da tua inóspita fantasia
Vejo apenas sinais proibidos de caminhos vedados
Uma navegação intensa que recusa o desencalhe
Forças ditas cansaço meros ruídos agridoces.

Debruço-me no olhar exausto do sol imaginário
Nem os sons marcantes das tuas vestes pressinto
... E os diálogos são fissuras e mares inglórios
Vulcões ditadores de estados incomuns de sítio.

Nem os aparos enrouquecem na escrita d'ontem
Nem as colmeias seduzem o mel dos corpos
Nem os campos amotinam as urbes de prazer.

Exercito simples rascunhos nos confins revolvidos
Bebo a seiva das árvores na tentativa de frutar
E o poema sobe ao palco completamente desnudo.

in MOMENTOS - José Luís Outono -2012


o sopro das labaredas


Incêndio na Serra de Sintra 2007, faz parte integrante de uma reportagem que ganhou Menção Honrosa no 8º Prémio Fotojornalismo VisãoBES, by Gonçalo Lobo Pinheiro.


a árvore desfalece
pelas chamas do infortúnio
impregnadas de incontidos sopros
que o vento  lhes incute

um fervilhar constante
eclode
por entre insondáveis matas
tornando-as mais limpas
em tristes tonalidades acinzentadas
simplesmente a eito

os soldados da paz
seguram nas mangueiras
desesperadamente
expelindo delas o sagrado incolor líquido
que atenua
por momentos
tal remessa maléfica
e incontrolável

a imprudência lançou
as chamas ao campo
e o campo descompôs-se
sem apelo nem agravo


António MR Martins

domingo, 22 de julho de 2012

Maravilhado ando eu com o Amor


Maravilhado
ando eu
com o Amor

Mais do que com o Sol ou a Lua
as estrelas
o Céu
a Terra
o mar
o trovão
as aves e os aviões
que voam nos ares
e atolam a Razão

O Amor
esse
transborda o coração
e extravasa a mente

É mais do que a gente sente

A mais generosa dádiva do Criador

O prodígio maior da Criação


Henrique Pedro


Resquícios da ventura adormecida





Soam bitolas perdidas
Nos rastos da incongruência
Bandeiras do esquecimento

Ultraje compensador
Ultimando outros lavores
Na doença assaz patente
Que invade tantos corpos
Metamorfoseados no tempo

Dissabores de alimento
Onde se secam as sílabas
Em percalços de tanta dor
Por tanto assentimento

Paladares sem outro sabor
Que não sejam amargura
Nesta gesta demais sofrida
Respirando aos soluços
Numa contenção desmedida
Intragável a cada segundo
Onde a espera então suscita
O receio de tanta demora


António MR Martins

Imagem: 1º de Maio, em Macau, by Gonçalo Lobo Pinheiro.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

ENLACE DAS PALAVRAS



O enlace das palavras
Como cetim
Deslizando entre os dedos
Em versos soltos
Pura cascata
Em êxtase

O íntimo de mim
No ventre de cada poema
Eterno

O enlace das palavras
É como o enlace dos corpos.


Jessica Neves


Decadência inabalável


Foshan, na China. Foto de Gonçalo Lobo Pinheiro.

Interrogo-me
A cada intervalo de meus passos
Nos tempos
Em que se empolga a voz
E os conceitos
Entre os paradigmas inadequados
Nesta conjuntura
De registos inacabados

Neste tempo que está em nós
Com defeitos
Sem virtudes
Em tantos dos seus espaços
Nem as feridas suturadas
Cicatrizam de vez

Quase tudo é inconsequente
Neste mundo
Por demais adulterado
Pela cíclica e restrita génese humana
Que nos inferniza
Num rude acto contínuo

António MR Martins

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Apresentação dos livros "Máscara da Luz", de António MR Martins e "Memória das Cidades", de Vítor Cintra, na Livraria Parlamentar da Assembleia da República, a 3 de Julho de 2012


Perfil do Palácio de S. Bento (Assembleia da República).

Livraria Parlamentar.

Vítor Cintra e António MR Martins.

"Máscara da Luz" e "Memória das Cidades", em evidência.

Mesa de honra

Da esquerda para a direita: Vítor Cintra, autor de "Memória das Cidades",
o escritor António Paiva, que apresentou obra e autor de "Memória das Cidades",
Dr.ª Maria de Belém Roseira, que apresentou obra e autor de "Máscara da Luz" e
coordenou a respectiva sessão e António MR Martins, autor de "Máscara da Luz".

António Paiva apresenta "Memória das Cidades".

A voz ao autor Vítor Cintra.

A Dr.ª Maria de Belém Roseira apresenta "Máscara da Luz".

Um aspecto da atenta plateia.

A vez de António MR Martins usar da palavra.

O momento de Vítor Cintra autografar a sua obra.

E de António MR Martins.