quarta-feira, 29 de março de 2017

O tempo é poesia


Imagem da net.




E a hora desesperou
tardia
num tempo 
que tardou 
sem ter tempo.

Entre o tempo 
em que tardou a espera
daquele verso
que o poema não findou.

Demorou tanto a chegada
que pela partida ansiou.

Logo a palavra
com entusiasmo
num sem tempo 
se deslumbrou.

O poema nessa quimera
quedo ali se finou
amargurado pela espera
que o verso nunca criou.

Autópsia da descoberta
num tempo morto
futilizado 
quase ocaso afinal.

Surge a montante
o sentido para o verso
e acontece a palavra certa
para o poema renascer.

Este o tempo de existir
do criar
e do porvir
ou a simples evidência
da poesia a acontecer.


António MR Martins

sábado, 25 de março de 2017

Grace Chia


Grace Chia, 6.º Festival Literário de Macau -
Rota das Letras 2017. Foto de António Martins.



@lice

I swallow the seed of
curiosity to find myself
tumbling through the fog
of my screensaver
into the dark ages -
down a hole, infinite,
plunging head first,
my flailing, marshmallowy
limbs waving farewell
to silverfish scuttling
inside the pages of my face
book.

White Rabbit,
you lead me eyes wide
to the fantastic, away
from this everyday motif
of duties for the greater good.
I am munching mushrooms,
flexing mercurial nerves to
become giant then dwarf,
aloft then squat,
cat-talking, sword-wielding;
playing monsters that go
gibberish-jabberish wock.

The Queen has my head
so I can’t think straight,
stumbling without faculty,
lost within four walls
typing this with vigour,
punching out words
till they are blue black
as furious and bruised
as I am; in my vendetta,
I become, mad hatter,
spurned, anonymous vigilante,
trying to right a wrong, Knave, 
the plague you inflict in me.

Grace Chia, in "Cordelia", pages 88 and 89, edition Ethos Books, Singapore, 2012.

* My simple translation, trying not to denigrate the poetics and the plot of the story, in the relevance of the user addiction of this virtual world, through facebook.

………………………………………………

@lice

Engulo a semente da
curiosidade de me encontrar
deambulando pela bruma
da minha protecção de tela
para a idade das trevas -
afundei num buraco, infinito,
mergulhando a cabeça primeiro,
agitando, no lodo dum pântano
removendo os membros
entre peixes prateados correndo
no interior das páginas da face
livro (facebook).

Coelho Branco,
leva-me os olhos bem abertos
para o fantástico, longe
deste quotidiano motivo
de deveres para um bem maior.
Estou devorando cogumelos,
flexiono os nervos mercuriais
na dimensão entre anã e gigante,
agachando-me de seguida,
voz de gato, espada empunhada;
e os monstros vão jogando
palavras sem nexo.

A Rainha possui-me a mente
e assim não consigo raciocinar,
tropeçando inconscientemente,
perdida entre quatro paredes
mas digitando tudo com vigor,
escavarei outras palavras
até que todos fiquem arroxados
de tão furiosos e magoados
como estou; na minha vingança,
me transformo, loucura extrema,
desprezada, vigilante anónima,
tentando corrigir o erro, Valete,
da praga que você infligiu em mim.

Grace Chia, in “Cordelia”, páginas 88 e 89, edição Ethos Books, Singapura, 2012.


* Minha singela tradução, tentando não denegrir a poética e o enredo da estória, na relevância do vício usuário deste mundo virtual, via facebook. 

quinta-feira, 23 de março de 2017

Deusa d’África


Deusa d'África, imagem da net.


A VIDA QUE NÃO TIVE

Um abraço
Um apreço
Um vaso
Para jogar a semente e irrigá-la
E clientes para fornecer-lhes
A água vinda das minhas pupilas.

Um afecto
Como um insecto
Cujo pai ensina-o a voar.

Um punhal
Para encravar
Em minhas entranhas,
A liberdade, 
E livrar-me da colonização da vida.


Deusa d’África, in “A Voz das Minhas Entranhas”, página 48, edição Deusa d’África / Grupo Cultural Xitende / Ciedima, Lda., Maputo, 2014.

terça-feira, 21 de março de 2017

escritores.online


Pode ver a minha página de escritor aqui.


Caos desembargador


Imagem da net.



Saem dum recôndito espaço mental
tais enredos promíscuos temporais;
num primoroso ensaio colossal
entre facetas algo desiguais.

Jocosas inerências sem virtudes,
dúbio apelar sem conformidade;
imo trespassado de vicissitudes
revelando larga incapacidade.

Saem bocejos, sendo camuflados,
em conceitos outrora desbravados,
síndrome oponente à rebelião.

Saem deplorados brandos costumes
das montanhas que pariram p’los cumes
ratazanas fomentando a confusão.


António MR Martins

segunda-feira, 20 de março de 2017

Apresentação do meu livro "Empresta-me a Palavra" em Macau, 19 de Março de 2017


No Edifício do Antigo Tribunal de Macau


Foi no último dia do 6.º Festival Literário de Macau - Rota das Letras 2017, que aconteceu a minha intervenção final, a apresentação do meu último livro "Empresta-me a Palavra", com a chancela da Chiado Editora, com a coordenação do amigo João Manuel Vicente. Fez-se uma conversa à volta do livro, da poesia e dos mais diversos temas que o João fez questão de abordar, levando-os ao conhecimento público. Sucedeu uma sessão repleta de sentires e emoções. Foram dezasseis dias com as palavras e os autores em plena interacção, que ficarão registados no meu imo para todo o meu sempre. A organização e a equipa da Rota das Letras foram inexcedíveis em simpatia, atenção, amabilidade e labor, isso... acima de tudo labor, e muito! Um muito obrigado ao Ricardo Pinto, ao Hélder Beja e ao Yao Feng, tentando, deste modo, abranger todos. Hoje é o dia seguinte, já nasceram as saudades!...

quinta-feira, 16 de março de 2017

JAM SESSION DE POESIA / BRANCO & VERMELHO - 14 de Março, pelas 21H30


No Vasco Bar, Grand Lapa em Macau.

Dizendo a minha poesia lida. Foto de Eduardo Martins.

quarta-feira, 15 de março de 2017

Yao Feng


Yao Feng, lendo um seu poema, na sessão
"Café dos Poetas", do 6.º Festival Literário de Macau - Rotas das Letras 2017, 
no Edifício do Antigo Tribunal, 4 de Março, pelas 20,30 horas. 



Relíquia

A cama do doente, velha e gasta,
e, na mesa, as flores de plástico que não sabem o que é
murchar
Os familiares, ainda saudáveis, cercam a cama a chorar
formando um muro de lágrimas
Lá fora, as sumaúmas, bem florescentes
refletem-se no vidro da janela como manchas de sangue

Começamos a arrumar os pertences pessoais do defunto:
agenda, telemóvel, espelho, pente, casaco,
sapatos, remédios
Entre eles o velho relógio Seiko
continua a fazer
tiquetaque, tiquetaque, tiquetaque…


Yao Feng (Pequim, China), in “Palavras Cansadas da Gramática” (poesia e fotografia), página 81, edições Gradiva, Novembro de 2014.

terça-feira, 14 de março de 2017

JAM SESSION DE POESIA / BRANCO & VERMELHO - 14 de Março, pelas 21H30


6.º Festival Literário de Macau - Rota das Letras 2017


Hoje irei dizer a minha poesia, durante cinco minutos, na sessão "Jam Session de Poesia", que terá lugar no Vasco Bar, no Grand Lapa Macau, pelas 21H30, na programação estabelecida para o 6.º Festival Literário de Macau - Rota das Letras 2017. 
Esta sessão estabelece-se com uma outra "Branco & Vermelho", o que vai dar azo a que ocorra uma interacção plena entre diversas artes, a poesia, a música, o teatro, a declamação, a dança, o gesto, etc.

Se quiser, e puder, apareça! 

E beba um copo, também!...

sexta-feira, 3 de março de 2017

Infinita beleza


Imagem na net.




Tu és a plenitude
do meu anseio,
superior patamar deste caminho.
Árvore sentido para a vida,
expoente da casa
no meu singelo ninho.

Tu és
a janela entreaberta, 
o sal benéfico
da existência,
o nascimento estratégico
de robustez e potência.

Tu és a palavra amor,
semente-abraço no infinito,
abrigo ao frio e ao calor.

Para mim,
o Ser mais bonito!...



António MR Martins