terça-feira, 30 de abril de 2013

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111 - Gleidston César







O que eu tenho é muito
O que quero é pouco
Sobrevivo entre abraços e
Afagos, entre a multidão e
A solidão, mas estou feliz
Com o que sou.
Sou sorriso entre alegria
Sou lágrimas entre o desprezo
Mas acima de tudo sou um ser humano
Em evolução.
Sou capaz porque tenho amigos
Que jamais me abandonarão.

Sobrevivente entre leigos e cultos
Desta vida devastada.

Gleidston César

in livro “ Os sentimentos por detrás das palavras”, página 46, edições Temas Originais, Coimbra, 2009.
 
 



Eis que surge o poema

 
Imagem da net, em: www.malambas.blogspot.com

 
Agem os poetas sentidos
em palavras divididos
na negrura que os rodeia.
Elevando os seus textos
entre todos os pretextos
que a mente incendeia.

Uns escrevem pelo amor
em vocábulo sedutor
por entre o sol e a lua.
Outros problemas sociais
e mais amarguras que tais
na verdade crua e nua.

Há quem escreva a guerra
como se molda a terra
no doce canto das aves.
Outros trazem as estrelas
inspirando-se ao vê-las
entre muitas outras chaves.

A palavra procurada
nem sempre é a achada
na busca de cada tema.
Mas no final do caminho
escrevendo com carinho
eis que surge o poema.

 
António MR Martins

segunda-feira, 29 de abril de 2013

NATUREZA EM FÚRIA




110 - Carlos Fragata







 
E quando ruge e sopra a Natureza,
Calam suas bravuras os valentes,
Ouve-se o som do vento e batem dentes
Não de frio... Mais forte é a fraqueza!

Passeio pelas ruas adjacentes
À casa que foi minha fortaleza
E que deixei, levado p’la proeza
De provar pertencer aos resistentes.

Mas o vento, ofendido, furioso,
Investiu, quis mostrar o seu poder,
Rodopiou feroz, aparatoso!

Regressei ao castelo, receoso,
Pois em fúria não há como vencer
Tal gigante, mil vezes poderoso!

 
Carlos Fragata


Entre o mar e a lua


Imagem da net.


Abafam-se as ondas deste mar
e os ruídos da noite escura,
brilhando nas águas o luar
por entre sedutora brandura.

Sonham-se enredos de magia
entre as palavras e os gestos,
suprem-se máculas na nostalgia
e esquecem-se tantos protestos.

Sintonizam-se pelos semblantes
num olhar de mútuo consenso,
vislumbrando doce harmonia.

Brade o mar os sons latejantes
em aromas de puro incenso
e com a lua leva a noite fria.

 
António MR Martins

sábado, 27 de abril de 2013

Chuvas





109 - Fernando Saiote







A chuva longa que hoje caiu
Lavou-me de todas as cores,
As minhas que em mim tinhas
Frases presas sem sabores,
Sem o olhar que te sentiu.

Fez-te minha e eu teu
Sedentos de viva carne, calor,
Suores cansados, lentos, frios,
Saboreados em beijos de amor,
Sexo bom que nenhum mereceu.

Essa chuva que ontem caía
Deu completa volta ao mundo,
Gritou a todos, secou-se,
Adormeceu num ermo imundo
E morreu enquanto dormia.

A rebelde inundou olhos e casarios,
Escreveu seus livros e canções,
Plantou flores, pintou quadros...
Mas esqueceu que tantas emoções
Acabavam sempre nas margens dos rios.

 
Fernando Saiote


sexta-feira, 26 de abril de 2013

natureza quase moribunda

 
Kaiping (China), by Gonçalo Lobo Pinheiro

 
morrem-me as entranhas pendentes
ante o sonho desfeito em mágoas
passo curto
muito breve
por entre as insónias do sonho
onde não cintila a luz
e tudo se desvanece

os contributos ilusórios
sustentam o insustentável
numa transformação rígida e crua
a cada gesto cruel
a cada aceno de raiva
a cada inconstância surreal
perante esta realidade amorfa
e desventurada

o poeta já não versa
os escritos irreais
as palavras nunca ditas
no silêncio
dos mais inaudíveis sons desconexos
que fazem parte do longínquo tempo
e da demagoga intenção
do devir

há uma raiz do medo
que alastra em todos corpos acomodados
e nos gritos silenciosos
para lá de cada horizonte

e tudo aqui acontece
numa permissão sem limites
que já nada se espera
dum outro dia
de um qualquer amanhã

 
António MR Martins

domingo, 21 de abril de 2013

SER


Esta publicação, referente ao tópico “Poemas de Amigos”, estava prevista lá mais para a frente mas, em consequência do trágico final de vida da respectiva autora, decidi publicá-la hoje, no dia seguinte ao seu desaparecimento do mundo dos vivos, da forma mais rude e totalmente imprevista. Paz à sua alma! Ficam as suas palavras…



108 - Delmira Claro






 

Sou gente,
Sou alguém,
Sou ninguém.
Rio, choro,
Sinto, cheiro,
Estou dormente,
Sou demente,
De ninguém!
Vivo, derivo,
Fluo, entorpeço,
Vou, venho,
Acordo, adormeço…
Estou, não vou,
Sem ser, sem estar,
Por ouvir, por chorar,
Sem sentir o olhar!
Avanço, num grito,
Sem pressa me precipito,
No sonho,
No espírito,
No ser,
No éter,
No Infinito…

Delmira Claro

in livro “Palavras (com e sem sentido)”, página 17, edições Temas Originais, Coimbra, 2011.
 
 

Primavera aqui



A semente penetra a terra
Momentos de agitação

Há um sorriso nos campos

Momentos de solução
Num cheiro a primavera

Momentos de paixão

 
Plena consagração

António MR Martins

sábado, 20 de abril de 2013

ATÉ QUE O VOO JÁ NÃO ACONTEÇA


 
107 - Rita Carrapato


Tantas folhas de outono
já cravadas nesta couraça!

Tantos cheiros de primavera
e tão poucos perfumes no ar!

A saliva engrossa
e o paladar enruga frente ao fulgor do fruto.

A visão refuta o colorido da ternura
enquanto o tacto, fiel à desilusão
acompanha o arco que limita cada dia.

É preciso saber que há primaveras que não cheiram
que há folhas que não se desprendem no Outono
sob risco de irmos deixando cair pena a pena
até que o voo já não aconteça.

 
Rita Carrapato



Uma rosa com o teu cheiro

 

Se uma rosa eu cheirasse…
fosse qual fosse sua cor,
e nela, mesmo, encontrasse
semelhanças com o teu odor.

Se por ti sempre esperasse…
após dias de intenso labor
e alegre sempre ficasse
pela dádiva do Criador!...

Se de um carinho resultasse
um movimento empreendedor…
e nesse sentido ultimasse
o ultrapassar da simples dor.

Talvez as mágoas esfumasse
perante efeito encorajador
na imagem que de ti espelhasse
emanada de múltipla cor?!...

Talvez por tudo exultasse
com regozijo e pundonor
se de nossos seres ficasse
para sempre o seu amor!...

 António MR Martins

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Introspecção


 
106 - Pedro Nobre


Contemplo-te com carinho
Cada traço, cada curva
Do teu corpo
Onde meus olhos se perdem
Envolvida entre as águas calmas
Lanças-me um sorriso tímido
Abres-me os braços
Procurando os meus
Retribui-te o mesmo sorriso
Retiro a minha roupa
De mansinho me aproximo
Unidos pela mesma água
Juntos pelo mesmo amor
Abracei-te
Como antes ninguém me tinha abraçado
Os meus lábios procuram os teus
Quentes e poderosos
Como um hímen se tratassem
As tuas mãos com pele suave
Percorrem o meu corpo
Em simultâneo o mesmo gesto
Vindo de mim
Entramos em êxtase
Sinto-me dentro de ti
Tudo ao meu redor desapareceu
Entre gemidos e mimos
A água formou ondulação
Formando marés vivas
Até que houve um dilúvio
Um dilúvio de prazer
Abraçamo-nos
Para nunca nos separar...

 
Pedro Nobre


Eis a Primavera



O sol surge
Escondendo-se aqui e acolá

Novas aves
Tentam voar
Esvoaçando

Os aromas do campo
Tornam-se mais sedutores
E as flores e plantas
Germinam
Em catadupa

A temperatura
Sente-se mais amena
E a chuva
Cai menos vezes

Há um leve sorriso
Nas gentes
E o verde da paisagem
Apresenta-se mais verdejante

Eis a Primavera

 
António MR Martins

quarta-feira, 17 de abril de 2013

ESTRANHA SENSAÇÃO




105 - Gil Moura






Sinto o palpitar das emoções
Que guardo contidas, dentro do peito
Impotente e desolado…
Recolho-me nos meus pensamentos
(Absorto no nada)

Procuro uma razão
Para estas sensações
Que sinto a toda a hora
Tristeza, solidão, desamor…

Não consigo explicar este sentimento
Mas sinto-o
Ao mesmo tempo…
Incerteza, inquietação, frustração…

É uma sensação estranha!
Quando se está rodeado, de muita gente
Mas mesmo assim nos sentimos…sós
Tento enganar este vazio, escrevendo

São as palavras que vão saindo
Deste coração magoado
São essas palavras que me acompanham
Nesta jornada
Porém, não desisto!

Procuro dia-a-dia, hora a hora…
A calma, a serenidade, o carinho
Que um dia…
Me conduzirá ao amor e à felicidade…
Que procuro.

Mário Margaride (Gil Moura)
 
 

Meu Abril esquecido

 
Imagem da net, em: www.hocoka.blogspot.com
 
 

Ai Abril, Abril,
Abraço de ouro
Entre cravos vermelhos
A voz de um povo
Livre dos trapos velhos
Porta de novo, aberta
Alheia a tanta vaia
Uma nova descoberta
Pelo olhar de Salgueiro Maia

Ai Abril, Abril,
Esperança rendida
Num apelo à felicidade
Onde tanta, tanta vida
Custeou a liberdade
Eis um canto bem novo
Pleno de magia
Num caminhar do povo
Rumo à democracia

Ai Abril, Abril,
Tua madrinha a terra morena
Perante os soldados teus
O povo te acena
Antes e depois do adeus
Os sonhos se apetrecham
De sentidos e coerência
E as gentes tanto desejam
Depois da rude penitência

Ai Abril, Abril,
Se esfuma o caminhar
A cada dia que passa
Só te querem festejar
Como se fosses a farsa
Se engordam outros palcos
E rasteiros se alteiam
Depois de inúmeros percalços
Muito, ou mais, nos saqueiam

Ai Abril, Abril,
Razão da minha mágoa
Sentido da minha saudade
Como uma fonte sem água
E um país de inverdade
Mudem-se tantas sujeições
Que fragilizam um povo
Deixemo-nos de sermões
E renovemos Abril de novo

 
António MR Martins

sábado, 13 de abril de 2013

XXX Animal social






104 - Fernando Gil Teixeira






Animal social,
Criatura sem igual.
Vivendo para a sociedade,
Perde toda a liberdade.
Sem ideias ou pensamentos,
Usa d’outros fundamentos.
Perdeu a capacidade de questionar,
Calcular, raciocinar…
Pelos “media” consumido,
Dele todos tiram partido.
Neste mundo perdido,
Vivo eu esquecido.

Fernando Gil Teixeira

In livro “Aqui entre nós…”, página 48, edições Temas Originais, Coimbra, 2012.
 
 

Momentos únicos



Pouso
No teu corpo o pensamento
Diluindo
O preceito dessa envolvência

Sem de ti
Ausentar a palavra
Em que se acalentam
Os afagos
Do nosso silêncio

Uma paz intensa
Anuncia a plenitude
Desses únicos momentos

 
António MR Martins

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Rasgos de Pele...




103 - Ana Madureira (AP Madureira)







Perco-me por entre labirintos que TE escrevem
e por entre memórias respiro-TE...

Volto-me pelo avesso
Rasgo a Pele
e Sangro todos os mares que em TI naveguei...
e sabes-me a Sal com aroma das noites quentes...

Em mim mora a lua que cálida se estende nas planícies
libertando perfumes feitos de sol
uivando alcateias onde os lobos são mansos
onde as garras não ferem
onde a dança se compassa ao som do DESEJO!

 
Ana Madureira (AP Madureira)


Retrato de Viriato

 
Imagem de Viriato da net, em: www.ofelino.blogspot.com

 
Grande alma parca em alimento
Boa compleição física e valor,
Foi sempre um autêntico tormento
Para os romanos, um exterminador.

Juntando um grupo de salteadores
E com a sua exímia liderança,
Sem recorrer a outros favores,
Dos Lusitanos mostrou a pujança.

Mas Cepião anulou um contrato
Que com Fábio Máximo estabeleceu
Provocando, então, muito desacato.

E Viriato que a tantos venceu,
Na traição se enredou no ultimato,
E num fugaz ápice tudo se perdeu.

 
António MR Martins

POEMA DA LÍNGUA / POEMA DE LA LENGUA





102 - J. T. Parreira (João Tomaz Parreira)









POEMA DA LÍNGUA

 
A língua do seu amor
sabia a rebuçado, a língua
do seu amor era um perfume
de jardim
para o enxame de abelhas
de seus dentes

A língua do seu amor
atravessava-se
no caminho
até à sua alma.

 

 
POEMA DE LA LENGUA

 
La lengua de su amor
sabía a caramelo, la lengua
de su amor era un perfume
de jardín
para el enjambre de abejas
de sus dientes

La lengua de su amor
se atravesaba
en el camino
hasta su alma.

 
J. T. Parreira (João Tomaz Parreira)

in livro “Encomenda a Stravinsky/Encomienda a Stravinsky”, páginas 58 (português) e 59 (castelhano), edições El Taller del Poeta S.L., Fernando Luis Pérez Poza, Pontevedra, Espanha, 2011.  
 
 

quinta-feira, 11 de abril de 2013

A António Ramos Rosa

 
António Ramos Rosa

 
“Quanto mais viva é a fantasia
Mais se entrega a substância…”,
Tal como Ramos Rosa escrevia
Na “Pátria Soberana” em relevância.

Pela reinvenção da linguagem
Se detém a sua dimensão poética,
Apelo hodierno duma imagem
Num invulgar recurso de estética.

É na contemporaneidade, dos maiores
Poetas pela língua portuguesa,
Em tudo que incendeia a cidade.

Um grande mestre nos pormenores
Numa escrita plena e acesa,
Referencial da sua identidade.

 
António MR Martins