sábado, 27 de abril de 2013

Chuvas





109 - Fernando Saiote







A chuva longa que hoje caiu
Lavou-me de todas as cores,
As minhas que em mim tinhas
Frases presas sem sabores,
Sem o olhar que te sentiu.

Fez-te minha e eu teu
Sedentos de viva carne, calor,
Suores cansados, lentos, frios,
Saboreados em beijos de amor,
Sexo bom que nenhum mereceu.

Essa chuva que ontem caía
Deu completa volta ao mundo,
Gritou a todos, secou-se,
Adormeceu num ermo imundo
E morreu enquanto dormia.

A rebelde inundou olhos e casarios,
Escreveu seus livros e canções,
Plantou flores, pintou quadros...
Mas esqueceu que tantas emoções
Acabavam sempre nas margens dos rios.

 
Fernando Saiote


Sem comentários: