sábado, 20 de abril de 2013

ATÉ QUE O VOO JÁ NÃO ACONTEÇA


 
107 - Rita Carrapato


Tantas folhas de outono
já cravadas nesta couraça!

Tantos cheiros de primavera
e tão poucos perfumes no ar!

A saliva engrossa
e o paladar enruga frente ao fulgor do fruto.

A visão refuta o colorido da ternura
enquanto o tacto, fiel à desilusão
acompanha o arco que limita cada dia.

É preciso saber que há primaveras que não cheiram
que há folhas que não se desprendem no Outono
sob risco de irmos deixando cair pena a pena
até que o voo já não aconteça.

 
Rita Carrapato



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