quinta-feira, 30 de maio de 2019

The End


Imagem da net.




à berma dos curvados sentidos
onde o silêncio reprova
os inaudíveis resquícios da voz
há um apelo à desintegração genérica
pela totalidade da votação.


António MR Martins

segunda-feira, 27 de maio de 2019

António Duarte Mil-Homens


António Duarte Mil-Homens, imagem da net.




[Há caminhos que infernam]

Há caminhos que infernam
o Paraíso.
Desencontros que desgovernam
qualquer siso.
E gritos de angústia,
lembranças de raiva
e sonhos calcinados,
pensamentos trovejados,
esperanças já sem seiva,
cada frase uma saraiva.
As mãos pendentes
ou afastadas porque quentes,
os lábios resignados,
os corpos emergentes
mas separados,
em hemisférios oponentes.

António Duarte Mil-Homens, in “Universália”, página 17, edições Temas Originais, 2019.

quinta-feira, 23 de maio de 2019

Espelho do tempo


Imagem da net.





Vês em mim a nostalgia perdida
dos anos bons,
as penas queimadas das mudanças
de estação,
a debandada das aves
que procuram o sol num outro lugar,
as rugas emergentes do acumular dos dias.

Vês em mim a saudade
das correrias da juventude,
o traço indefinido que o tempo transformou,
a secura da voz
que se vai tornando inaudível,
o cansaço do corpo
que nos faz parar vezes demais.

Vês em mim os meses passados
pelo olhar algo parado,
um respirar ofegante
de outras paragens humanas,
a ténue margem que nos separa
nesta caminhada.

Vês em mim
tudo o que em ti vejo,
a certeza de aqui estarmos
vendo-nos mutuamente
e de um momento para o outro,
no intervalo de um breve sorriso
ou de uma melancólica tristeza,
nos podermos abraçar.

António MR Martins

domingo, 19 de maio de 2019

A profecia da pálida rosa


Imagem da net.





Rosa branca de claro modo
rasgo de aromatização profunda
entre a palidez das pétalas
onde se encarnam os sentidos.

Um pássaro pousou em ti
e levou um pouco do teu perfume
pelas terras de tantas passagens
até ao cume da alta montanha.

Rosa pálida esbranquiçada
raiz, flor ou novo conceito
no deslumbre de cada alma
iluminada serenamente,

que não sustentas defeito
pelo esplendor profetizado
pelas palavras do vento
permanentemente.

António MR Martins

segunda-feira, 13 de maio de 2019

Aziago impossível retorno


Imagem da net.




No ínfimo toque da flor
o murchar em simulacro da raiz
pelo caule do porvir adormecido
onde a folha polvilha o impasse
por cada certeira razão

ao rubro no devorar do mar
a imperfeição de cada conquista
pelo tempo comum à vida
onde os amantes acontecem
na origem da persistente demora

a derrota será um destino
do caminhar simples a sós
onde morarão os abrigos
dos gestos que apertam
a obscura seiva do desenlace
sem retorno calculado.


António MR Martins