segunda-feira, 31 de julho de 2017

Teresa Teixeira


Teresa Teixeira, imagem da net.



Agenda aberta

(Descobri que é fácil morrer: basta entregarmo-nos…)

…Como quem perde
todas as julgadas vitórias num passe
num flash, que nos entra nos olhos
e converte todas as lágrimas em grãos de areia.
Quantos grãos de areia…?
Talvez tantos, quantos anos tenhamos evitado a luz.
A cruz, essa
foi só conversa
(fiada)
que a vida não nos dá nada
empresta
uns trocos que nos iludem
a própria preciosidade
e dela nos cobra juros
mais cedo ou mais tarde.
A morte é de boas contas:
fiel, espera-nos sempre
basta entregar as pontas.

(Vida, diz-me quanto te devo, quero agendar o meu pagamento.)

 
Teresa Teixeira, in “Labiríntimos”, página 30, edições Lua de Marfim, Setembro de 2015.  

  

Homenagem ao poeta António MR Martins, pelo grupo Asas de Poesia



A mesa de honra. Teresa Gonçalves, António MR Martins e Cândida Quintas.
 
Tem por hábito, o grupo Asas de Poesia, nas suas sessões mensais de tertúlia poética, que ocorrem regularmente na Biblioteca Municipal Dr. José Vieira de Carvalho, na Cidade da Maia, convidar um poeta contemporâneo para a primeira parte dessa programação, onde é homenageado, dando-se a conhecer o seu percurso e lendo-se alguns poemas de sua autoria, pelos diversos membros do grupo, havendo, sempre, um intercalar musical por entre vários grupos de poemas desse autor. Na segunda parte cabem ser homenageados autores consagrados, já falecidos, abordando-se as suas vidas e obras, com a participação do público presente que lê alguns dos seus trabalhos.

 
Um pormenor da plateia.


Na última sessão, acontecida sábado passado, dia 29 de Julho, coube ser convidado o poeta António MR Martins, sendo o autor consagrado, desta feita, Rosa Lobato Faria, contando-se com a variada intervenção musical do Grupo Popular Tradicional “Sons D’Outrora”. A sessão teve lugar na sala Café-Concerto da Biblioteca Municipal da Maia, tendo o seu início pelas 16 horas, terminando por volta das 18H30 e no final teve lugar um Porto de Honra, havendo sumos e águas para quem quisesse, a acompanhar um fausto lanche, onde a doçaria local teve maior preponderância.

 
A mesa atenta aplaude a intervenção musical, a cargo do
Grupo Popular e Tradicional "Sons D'Outrora".


De António MR Martins foram lidos vinte poemas, sendo eles: “Ficar ou partir”, “Jeito de ser feliz”, “Teu jeito de ser”, “Esse teu poema”, “Árvore em destruição”, “Escasseia-nos a liberdade”, “Soalheiro quotidiano”, “Infinita beleza”, “Respostas perdidas”, “Sufoco dilacerante”, “Dedicatória à saudade”, “Contemplativo fascínio”, “Azul profundo”, “Sem solução”, “O silêncio na voz do poema”, “Encontro de amantes”, “A tua diferença é um poema” e “Dá-me um beijo” e similar quantidade de poemas, foram ditos ou lidos, relativamente à obra de Rosa Lobato Faria, aqui António MR Martins leu o poema, dessa autora, “Beijo a beijo”. O grupo musical “Sons D’Outrora” interpretou oito temas de índole popular, oriundos de diversas regiões do nosso país, cabendo um tema ser dedicado ao autor homenageado e outro ao grupo Asas de Poesia, na pessoa de Teresa Gonçalves.

 
O Grupo Musical "Sons D'Outrora".


Foi uma sessão plena de emoções e de enorme interacção entre todos os presentes, que resultou na passagem de uma belíssima tarde de poesia, com música e animação, que terá sido inesquecível para a plateia que assistiu e/ou participou no evento.

 
António MR Martins, lê o poema de Rosa Lobato Faria, "Beijo a beijo".


Agora a maior parte dos membros do grupo Asas de Poesia vai de férias, voltando a estas lides em Setembro, sendo o próximo convidado contemporâneo o poeta Vítor Costeira.
 
Entre os membros do grupo Asas de Poesia, presentes.
Da esquerda para a direita: Cândida Quintas, António Portela, Teresa Gonçalves,
o poeta António MR Martins, Dulce Morais e Manuela Carneiro.
 

sexta-feira, 28 de julho de 2017

Fui convidado para a sessão de poesia na Biblioteca Municipal da Maia, de 29 de Julho de 2017. Uma organização do grupo Asas de Poesia.


A convite do Grupo Asas de Poesia, no dia 29 de Julho estarei na Maia, na Biblioteca Municipal Dr. José Vieira de Carvalho, a partir das 16 horas, numa grandiosa sessão de poesia, onde na 2.ª parte se falará da vida e obra de Rosa Lobato Faria.
 
Apareçam e tragam mais amigos convosco.
 
 


Difícil entendimento


Imagem da net.




Na praia esquecida
os novelos das marés
ensaiam os memoriais
da esperança perdida.

Numa gaivota só
se explanam os sonhos retidos,
que auguram assumir
o velho sonho da liberdade.

Finca-pé impertinente
onde esvoaçam as asas do vento
e todos os grãos de areia
não providos de robustez.

O cliché
da expressa monotonia
e a irónica gratidão
da incompetência deslumbrada.

Resta o passo seguinte
para a total compreensão
incompreendida.

 
António MR Martins

segunda-feira, 24 de julho de 2017

Caminho desconexo


Imagem da net.



Nesse sentido memorizei
um caminho inusitado,
onde a frieza se manteve
num desusado rigor,
apesar da decadência.

Nesse memorável percurso
se combinou a manchete
da nossa concordância,
em rastreio de intimidades
jamais decifráveis.

Nesse caminhar desconexo
rivalizou o perjúrio,
em enfeites de ignorância
na abstinência do ser,
pela contida exactidão.

Nesse bulício esquecido
se desarmou o pretexto
de um débil percorrer,
nunca reconhecido
e completamente omitido.

Nesse finalizar descomposto
ultimaram os preconceitos,
não utilizando a estrada
da demora permitida
no auge da própria vida.

 
António MR Martins

sexta-feira, 21 de julho de 2017

Vozes silenciadas


Por terras de Pedrógão Grande. Foto de António Martins.



Esgravatam os ânimos rebeldes
Indispostos pela tolerância
E para tantos outros afagos

Os fogos se desvanecem
Os pruridos se elevam
As mentes enlouquecem
E as verdades não se revelam

As melodias são confusas
E a ilusão incorporam
Entre tantas palavras difusas

Os aceiros já não dividem
As pedras esmorecem
As árvores não se agitam
As vozes não têm comando
E as vidas não têm conserto
Pelo desespero que assentam

Há um cântico amordaçado
Em tanta voz do silêncio

 
António MR Martins

Olinda Beja


Olinda Beja, imagem da net.



Fragilidades - II

descia na falésia a sombra de teus olhos
cílios luarentos de papaias e de mangas
flutuava em teu desejo a noite e a madrugada

tamborilavas no zinco do meu peito enquanto a lua
se espreguiçava em nossa verde cama

e eras como a chuva abrindo sulcos fundos no capim
e eras o ossame e o quiabo do meu gosto
e eras a canoa à deriva no meu mar

fundeámos em estrelas de alísios pensamentos
erguemos a coragem e o sextante do navio

remadores ficámos de agitadas águas nas margens de Paguê

 
Olinda Beja, in “À Sombra de Oká” (Prémio Literário Francisco José Tenreiro), página 71, Edições Esgotadas, 2015.

sábado, 15 de julho de 2017

Requinte de um beijo único


Imagem da net em: www.muitofixe.pt



Um beijo. A epopeia de um beijo só,
num sentir profundo e empolgante;
por vezes como o desatar dum nó
envolto num prazer autocolante.

Sufoco pelos minutos em que dura
o emprego dos lábios e adjacentes,
enlevo que suavemente se atura
repleto de sentidos correspondentes.

Sentir a descolagem como união
e no rubor intimista a sensação
do seu perdurar pelo tempo fora.

Olhos fechados, anseio fecundo,
entre o parar ou correr o mundo
ficam uns lábios, outros vão embora.

 
António MR Martins

quarta-feira, 12 de julho de 2017

Maria Dias


Maria Dias, imagem da net.
 


As marcas do tempo

 as paredes envelhecem
as portas apodrecem
mostram as marcas do frio
do forte calor do estio
do inverno tão frio
das chuvas torrenciais
do pouco e de tudo o mais…
mas essas, podem-se reparar
e assim as recuperar

 no ser humano é diferente
ao seguirmos em frente
o tempo deixa marcas
e, deixa lembranças
profundas recordações
que o tempo nos presenteou
marcas nos corações
no corpo desenhadas,
da vida que em nós ficou

 
Maria Dias, in “ Abraço-te”, página 62, edições Boutique da Cultura, com desenhos de Teresa Caio, Março de 2017.

domingo, 9 de julho de 2017

Espinho(s) da vida ou da morte


Espinho, imagem da net.



Trago comigo memórias perdidas
ao relento do teu aroma perfumado
hortelã do teu regaço
e dos pássaros cantando ao desafio
por entre a bruma do esquecimento.

Vieste do outro lado
abraçar-me sem preconceito
num afago abundante
repleto de amizade simples e pura
por entre os sonhos inacabados.

Trago o som das tuas palavras
no meu recôndito espaço-ouvinte
e no âmago um aperto inalterável
perante a tua imagem sentida
e no grave da tua voz,
silenciada nos tempos,
se estende o meu caminho.

Sinto-te todos os dias
companheiro das horas calmas
e da agitação das conversas,
sorridas ou choradas,
conforme as circunstâncias.

Verde ou azul
vale o verbo da vida
na diferença das margens do ser
e do pendor proeminente
dos laços que unirão para sempre
nossas vivas (in)existenciais.

 
António MR Martins

sexta-feira, 7 de julho de 2017

Joaquim Pessoa


Joaquim Pessoa, imagem da net.



BOM DIA, MEU AMOR!

Acordo-me. Acordo-te. Sorrio.
E sobre a tua pele que a minha adora,
navega o meu desejo, esse navio
que sempre parte e nunca vai embora.

E como um animal uivando o cio
de um milénio, de um mês ou uma hora,
não sei se morro ou vivo, ou choro ou rio,
só sei que a eternidade é o agora.

E calam-se as palavras, uma a uma,
feitas de sal, saliva, dor e espuma,
com a exacta dosagem da alegria.

Bom dia, meu amor! O teu sorriso
é tudo o que me falta, o que eu preciso
para acender a luz de cada dia.

Joaquim Pessoa, in “Os dias não andam satisfeitos”, página 53, Edições Esgotadas, Março 2017.