terça-feira, 10 de janeiro de 2023

Vítor Cintra

 

Apresentação do livro "Memória das Cidades", de Vítor Cintra
e do livro "Máscara da Luz", de António MR Martins, em Góis, 
na Casa da Cultura. 9 de Junho de 2012. 

No dia do 82.º aniversário (10 de Janeiro de 2023) do nascimento do saudoso poeta e amigo Vítor Cintra deixo-vos um seu poema. E como conheço esta bela cidade brasileira, fica a mútua homenagem. Saudades, muitas! Até um dia, meu bom e inesquecível amigo!...

 
RIO DE JANEIRO
 
Cresceste no sopé do Corcovado,
Cercando o Pão d’Açúcar e a Lagoa,
A ver subir nos morros, mesmo ao lado,
Casebres dos mais pobres, gente boa.
 
Quem te olha, lá do alto, deslumbrado
Perante uma beleza, que magoa,
Acaba por ficar apaixonado,
Sentindo que a paixão não surge à toa.
 
Nos dias em que o vento está parado,
Há sempre uma asa delta, que alto voa,
Planando desde a Gávea a São Conrado.
 
E até de cada morro arborizado,
Todo esse encantamento, que se escoa,
Nos faz sentir num mundo enfeitiçado.
 
 
Vítor Cintra, in “ Por Terras de Vera Cruz”, página 9, edições Lua de Marfim, Colecção Lua Nova, Outubro de 2013.


Os caminhos da Natureza

 

Imagem na net.


Não olhes para mim desse modo,
que as andorinhas continuam a voar
à chegada do inverno.
 
Não fales para mim assim,
que o vento continua a galgar
penedos e serranias.
 
Não sorrias dessa maneira,
que a chuva cai mais forte
deixando a ligeireza de antanho.
 
Não me dirijas gestos desses,
que o sol queima quando se expõe
e tudo esfria quando se encobre.
 
Não me sobressaltes os sentidos,
pois a lua vem madrugar, suspensa na noite
que antecede cada manhã.
 
Afinal tudo está como dantes,
embora de forma diversa,
e as nuvens caminhando
segredam entre si
que as águas dos rios
correm para a foz
que lhes foi destinada.
 
Tudo o que resta e tanto mais
é a vida,
que nos acompanha.
 
 
António MR Martins

terça-feira, 3 de janeiro de 2023

Conceição Oliveira

 

Capa do livro "A Palavra e o Fogo", de 
Conceição Oliveira, Modocromia, 2022.


VII

 
Meus olhos,
abertos à confluência
das mágoas,
serão testemunhos desse abraço.
 
Rebuscarei nas memórias,
as mais sentidas,
irei ao encontro de um sonho
cumprirei a saudade.
 
Saudade dos nossos heróis.
 
Afastarei as névoas
do esquecimento…
 
Som de águas como fundo
e passos determinados
de gatos – heróis,
trá-los-ei até mim.
e abril, será.
 
 
Conceição Oliveira, in “A Palavra e o Fogo”, página 31, segunda parte – da saudade, edições Modocromia, Colecção A Água e a Sede, Dezembro de 2022.      

domingo, 1 de janeiro de 2023

Ano dos noves fora sete

 

Imagem na net.


Como passam lestos os anos
sendo seus dias catadupas de tantos sentidos
as díspares horas rápidas efemeridades
os minutos pensamentos contínuos
e os segundos vias de ansiedade acumulada.

Tudo é efervescente a cada dia
desde o acontecer malévolo
à sólida correnteza benévola
que a vida também tem
coexistindo com a infelicidade
e a felicidade dos seres humanos.
 
Lágrimas vertidas
e gargalhadas exultando êxtases
apertos de mão, beijos e abraços
entre estaladas e pontapés
que o desenrolar da nossa existência
vai acarinhando ou espezinhando.
 
O tempo corre indiferente
aos dias de chuva e aos dias soalheiros
aos ventos e às securas
às guerras e à paz
ao amor e ao desamor
à perfeição e à imperfeição
ao apreço e ao desapreço
à ilusão e à desilusão
a tudo o que nos rodeia e sentimos.
 
E esta envelhecida carcaça caminha lenta
num pausado andar tímido
no destino da foz da vida
com os atropelos habituais
e as surpresas
que sempre alimentam a esperança
que nos dá a lucidez para este caminhar.
 
António MR Martins