domingo, 24 de julho de 2016

Edgardo Xavier






A ALVORADA

Ninguém sai de ser pedra para a indiferença.
Ninguém se toca sem arder
e todos os teus desejos se cumprem
no tumulto do meu sangue.

Sou carne que geme na alvorada da infâmia
ao chamamento surdo que nos violenta.
Vejo a tua boca, fonte de farpas e medos
gritar rouca pelos homens do mundo
mas só eu respondo
e só eu em ti me entranho e afundo.

Corre, amor bravio e liberta-me.
Deixa que morra na tua seda de pele e ferro
no teu mar morno, revoltado
na tua saliva ardente.
Vem, mata em mim a tua sede
e canta a minha vontade de voo.

Edgardo Xavier, in “Escrita Rouca”, página 54, edições Insubmisso Rumor, Junho de 2016.   

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