sexta-feira, 29 de março de 2019

Passagens de peões, vulgo passadeiras


Imagem da net.




Tanta passadeira descontente
na travessia das ruas
não há calma que enfrente
tanto andar atabalhoado
por um pé que passa em frente
sem o dono olhar para o lado.

Às vezes fora delas
atravessam calmamente
e só olham para a frente
ou para o lado contrário
e sempre em linha corrente.

Até param ligeiramente
em sentido consciente
num apelo à buzinadela
e lá continuam seu percurso
com orelhas sempre moucas
e os condutores de sentinela.

Vem um grito cá de dentro
esfumado num sopro valente
e o coração bate premente
que na esquina seguinte
outra passadeira nos afronta
da mesma forma insistente.

Pois também há condutores
que olham de soslaio
e não respeitam a prumo
a passagem de um peão
que sendo simples lacaio
só quer seguir seu rumo.


António MR Martins

quarta-feira, 27 de março de 2019

António Duarte Mil-Homens


António Duarte Mil-Homens, imagem da net.




[Vulcões que de erupções me aqueceram]

Vulcões que de erupções me aqueceram,
que de lava me arderam
e no mar, da realidade,
magma vertido arrefeceram.
No mapa da memória são ilhas,
mais desertas que românticas,
naufragadas a muitas milhas,
ecoadas em semânticas…
Por isso te quero nascente,
pura e calma, refrescante,
que num leito firme e crescente
me lave contradições e medos,
nos irrigue os sentimentos
em lezírias inundadas
sem vítimas nem outros estragos,
desaguado num estuário
sem recifes nem rochedos,
navegado o teu corpo
sem mágoas nem mais fadário,
novos rumos traçando
sem bússola nem sextante,
em busca da aventura
solidária e constante,
bebida em grandes tragos
feita prazer e ventura.

António Duarte Mil-Homens, in “Universália”, página 24, edições Temas Originais, 2019.   

quarta-feira, 20 de março de 2019

Macau


Vista nocturna de Macau (parcial). Foto tirada da Taipa, 
por António Martins




Da varanda deste prédio
vislumbro num só olhar
a apoteose macaense
perante tantas das luzes
que iluminam tuas noites

saltam-me ideias na mente
imaginárias e verdadeiras
será que existo
ou tu existes
nesta globalidade planetária

e só me apetece mirar-te
observar-te no horizonte
ante as pérolas
que dão nome ao rio
das águas que te abraçam
num imenso delta de memórias

e quero

agarrar o universo
com uma simples palavra
ou em silêncio ficar
simplesmente
dizendo nada.


António MR Martins

sexta-feira, 1 de março de 2019

Curriculum vitae


Imagem da net.




Há morangos a descoberto
por entre a folhagem do teu olhar

e a luminosidade constante
num sorriso de tanta espera

há um trejeito uniforme
que se complementa
com o agridoce da tua voz

e nesse composto vinhedo
são versos e poemas
que te enfeitam o perfil

tua presença
é o antídoto para todas as maleitas

e é no mel dos teus lábios
que as abelhas da perfeição
acolhem as colmeias de todos os sentires.

António MR Martins