segunda-feira, 22 de agosto de 2022

Ante a indiferença das pedras

 

Imagem na net.


A pedra soletra

as sílabas dos sons perdidos
perante ervas e silvas selvagens
que germinam nas suas bermas
 
pela extremidade latente
liberta-se de todas as raízes
e se inquieta suavemente
na origem de cada anoitecer
 
porém
estabiliza
na acalmia de cada alvorada
 
na consequente expressão
omitida
junto à ultimada solidão da noite
 
no solo em que habita
renasce o soletrar
onde a sonora palavra não é vã
 
e quando numa pedra pegamos
lançando-a com desmedida força
se empolga a plenitude do vento
e o sopro memorial
do tronco de milhares de vidas.
 
 
António MR Martins

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