Do poeta brasileiro mais português...
CARTA
não sabia que também
consumia meu último lápis.
As palavras saltaram manchadas do nada,
na última carta que escrevi
e o lápis ia aos poucos desaparecendo,
inútil como uma sombra.
Quando amanheci e enviei a carta a mim mesmo,
no endereço que desconheço,a ao ler contive as frases esquecidas,
como se assim pudesse
compreender o que não tinha a me dizer.
Inútil trama de mim
que a mim se refere sem me sentir:as palavras estão definitivamente mortas
no risco de um lápis
que também não sabe,
a escrever-se em si mesmo
essa carta derradeira
que me será entregue
quando não estarei mais aqui.
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