[Aquele quadro de
alguém que escreve]
Aquele
quadro de alguém que escreve
arquivado
num canto da salaessa imagem inflamável que ameaça o teu olhar
e o transforma na trémula recusa de observação
um dia ardeu na consciência da tua casa.
Agora
observas as paredes dobrarem-se
como
as folhas dos livrose uma língua inútil vem lamber
o espaço ferido e cintilante
tudo para falar desse medo
que se incendeia no tecido do tempo
essa instalação de onde escreves arruinado
como se te enrugasses num fogo turvo de esquecimento
e os teus passos pela vida fossem a cinza
e o bolor incendiários.
Fernando Esteves Pinto, in “Área Afectada”, página 49, edições Temas Originais,
2010.
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