sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Lugares e Palavras de Lisboa, Lugar da Palavra Editora

 
Fui seleccionado para fazer parte desta obra literária
- Janeiro de 2015 -
 

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Paulo Afonso Ramos






8.

as tuas mãos são a
minha casa – aconchegam-me
adormecem-me – e
acordam-me ao
amanhecer

25.

quis escrever um
poema e sorri – o sorriso
foi escrito – poesia,
agora sei, é sorrir aos
teus olhos

41.

os silêncios da casa são
alicerces do amor e é
entre todos os silêncios
que o teu corpo se
move

Paulo Afonso Ramos, in “levaste-me os silêncios”, página 18, poema 8., página 35, poema 25. e página 51, poema 41., edições Lua de Marfim, Dezembro de 2014. 

Mudemos as voltas ao Mundo


Imagem da net, em: www.youlinked.com



Abrem-se grandes crateras em meu peito
intensas feridas sem sangue a correr;
são dores enormes às quais me sujeito
por tanto suprir que nos tolda o viver.

Cada dia nascente traz mais um aumento
uma nova taxa ou um acesso vedado,
imposto qualquer numa lágrima-lamento
e uma Saúde omissa de tanto cuidado.

São escolas públicas com salas desertas
hospitais similares sem dosagens certas
e outro banqueiro com riqueza no mundo.

Milhares sem-abrigo nas ruas a dormir
milhões de crianças na Terra a partir
e o silêncio é cada vez mais profundo!...

António MR Martins

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Fernanda Esteves





À VIDA!

A vida não se esgota,
Não se esvai,
Renova-se!
É metaforicamente,
como casca de cebola,
Atrás duma vem a outra
E faz chorar os desprevenidos
Mas limpa a alma
E na última camada
És tu e os cosmos
Num brinde
À paz e à serenidade!

Fernanda Esteves, in “ No Pendor dos Tempos”, página 98, edições Temas Originais, 2014.

Esta obra, um romance deste e do “outro mundo”, também engloba poesia. No seu conteúdo tem alguns poemas, de enorme qualidade, deste e do outro mundo, também.

me quedo neste sentir


Ericeira, 2007, por António MR Martins



restam as diferenças entre trigo e joio
numa simbiose versus tudo ou nada;
sagaz metamorfose que precisa de apoio
num alinhamento de prova superada.

ambivalência restrita de qualquer modo
na procura dos sentidos desconhecidos;
fascínio pelos vinhedos onde não podo
logro persistente dos mais apetecidos.

paladar sem proveito da triste saudade
papel personalizado pela verdade
onde as colheitas enfermam de tanta dor.

em rastreio consentido pelo verbo amar
bonança saliente propícia a festejar
fecundo culminar onde resiste o amor.

António MR Martins

domingo, 25 de janeiro de 2015

Fátima Guimarães





Íntimo

Trago nas pálpebras cansadas
o peso de todas as demoras

na pele ressequida pelo sol
trago a sede de teu indomável rio

nos lábios orvalhados
trago ainda o perfume do teu corpo
e nos olhos todos os sonhos e desejos

trago o mar nas mãos
e as dunas por entre os dedos

Fátima Guimarães, in “a voz do nó”, página 34, edição de autor, Novembro de 2014.

P. S. – Este livro de poesia é simplesmente… MARAVILHOSO !!!

A talentosa árvore de fruto





Cresce
na imensidão do seu rigor
nascem-lhe folhas
da cor que lhe compete
e assim se harmoniza
na sua ênfase sedutora.

Mais tarde
da flor ao fruto
a transformação multiplicada.

Abastece-se o seu conteúdo
dando-lhe uma forte composição
bela e inigualável.

Por fim
de tanto carinho transmitido
quase a perfeição da recolha.

Da boa árvore
os bons frutos.

 António MR Martins

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Maria Otília Henriques





ABRO A PORTA

Presa na mente
abro a porta
ao vento
para libertar
os grilhões…

Liberto a minha causa
construo o meu poema
Nada quero
que me prenda
vou acordar a aurora…
Nova vida
pensamento positivo
razão e motivo…

Sempre a caminho
em madrugadas de lírios
o Sol nasce risonho
desço o rio feliz
sendo do Amor aprendiz

Em cada dia
ouço bela melodia
cai uma folha
nasce uma flor
sorrio à Lua
sonho estrelas
acendo velas
pinto telas
e como são belas!

Maria Otília Henriques, in “ Esta terra que sou eu”, página 17, edições Temas Originais, 2014.    

A palavra nunca dita





Sei da inteira palavra por dizer
que esperneia debaixo da língua,
espevitada por querer aparecer
depois de imenso tempo à míngua.

Nesse salientar indesmentido
se apetrechou de larga memória,
na origem dum tempo omitido
por tanta palavra sem ter história.

Arreganho pontificado de rigor
elogio ou quimera de simples louvor
definição sem ter entendimento.

Rio corrente ou raiz flutuante
vai progredindo ante olhar fixante
virtude que não conhece sustento.

António MR Martins

domingo, 18 de janeiro de 2015

Conceição Oliveira





Náufrago

A minha casa é a ilha onde aporto em tempestades:
Tem paredes, árvores, destroços, um náufrago;
rosas brancas, trepadeiras, um pardal;
o azul do céu.

As árvores ensombram os silêncios que o pardal quebra
na liquidez dos vazios.

Dos cânticos das sereias crivo estados febris
e chamo as rosas a fortalecer ausências
escondidas no breu dos dias vis.

Rodeia-me o mar.
O desânimo é meu.

E se alguém me disser que a minha casa não é uma ilha,
é porque não conhece a água que veste os meus dias.

Caídos os braços

o náufrago
sou eu.

Conceição Oliveira, in “Da Raiz (transparências)”, página 57, edições Palimage, Coimbra, Dezembro 2014.

 
P. S. Este é, sem dúvida, um excelente livro de poesia. Recomendo a sua leitura.

Caminhos tristes


Imagem da net.

 

Doutro modo “Tristeza (In) gloriam”,
página 56 da obra
“Da  Raiz (transparências)”,
de Conceição Oliveira,
edições Palimage, Dezembro de 2014.
(Meu afectuoso abraço)

 

 

Manobrada em labirínticas águas aguardando o escurecer
embalando as ondas, nas rochas o embater

Reveste-se de escuro tapa-se de dor
agarra o futuro, pleno de infinito fulgor

Envolve-se de (anti)poder, encostando-se ao isolamento
murmura o alvorecer nas réstias dum lamento

Dela, tanto, tão pouco, o lema das reduções
aromatiza-se das pinturas de artistas e das emoções

Ide negrume veloz na companhia dos gritos
despede-te de quem te acompanhou
e resta-te nas águas dos mitos

Por cá
multiplicam-se os silêncios

António MR Martins

sábado, 10 de janeiro de 2015

Vera Sousa Silva






Até amanhã

Até amanhã, meu amor!

Deixa-me dormir com os anjos,
sair do meu corpo e seguir as estrelas.

Não tenho espaços abandonados
no meu coração, nem pedaços
de papel por escrever.

Disse todas as palavras necessárias
e tantas vezes , mais do que isso.

Fui boa, fui má, fui humana
e subi íngremes caminhos
sempre a teu lado, meu amor.

Conheci o mundo pelos teus olhos
e guardei memórias íntimas,
infinitas. O mais importante
és tu, pedaço do meu peito,
que levo comigo no sono.

Até amanhã, meu amor!

Vera Sousa Silva, in “até amanhã”, página 63, edições Lua de Marfim, Novembro de 2014.

sufoco dilacerante


Imagem da net, em: www.embarquenaviagem.com



longe estão as palavras
do desafogo

os âmagos expelem
sentidos indecifráveis
no espectro agonizante
da impaciência

talham-se formas
às sensações descabidas
do senso
na congeminação das inconfidências
indestrutíveis

neste apego pelo desnorte
apenas se suavizam
pequenos bolhas de ar puro
que ainda nos vão rodeando

António MR Martins