domingo, 18 de janeiro de 2015

Conceição Oliveira





Náufrago

A minha casa é a ilha onde aporto em tempestades:
Tem paredes, árvores, destroços, um náufrago;
rosas brancas, trepadeiras, um pardal;
o azul do céu.

As árvores ensombram os silêncios que o pardal quebra
na liquidez dos vazios.

Dos cânticos das sereias crivo estados febris
e chamo as rosas a fortalecer ausências
escondidas no breu dos dias vis.

Rodeia-me o mar.
O desânimo é meu.

E se alguém me disser que a minha casa não é uma ilha,
é porque não conhece a água que veste os meus dias.

Caídos os braços

o náufrago
sou eu.

Conceição Oliveira, in “Da Raiz (transparências)”, página 57, edições Palimage, Coimbra, Dezembro 2014.

 
P. S. Este é, sem dúvida, um excelente livro de poesia. Recomendo a sua leitura.

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