segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Camilo Pessanha


Camilo Pessanha (1867-1926)



ESTÁTUA


Cansei-me de tentar o teu segredo:
No teu olhar sem cor, frio escalpelo,
O meu olhar quebrei, a debatê-lo,
Como a onda na crista dum rochedo.

Segredo dessa alma e meu degredo
E minha obsessão! Para bebê-lo
Fui teu lábio oscular, num pesadelo,
Por noites de pavor, cheio de medo.

E o meu ósculo ardente, alucinado,
Esfriou sobre o mármore correto
Desse entreaberto lábio gelado…

Desse lábio de mármore, discreto,
Severo como um túmulo fechado,
Sereno como um pélago quieto.


Camilo Pessanha (Coimbra, 1867-Macau, 1926), in “Clepsidra”, página 16, edição bilingue, com tradução de Yao Feng, Instituto Internacional de Macau, 2016.   

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