sábado, 29 de setembro de 2018

Proteger a casa de todos os vindouros


Imagem da net.





Rasgo muitos caminhos escondidos
por entre destinos de tantas fontes
e nos anoiteceres esquecidos
trago mensagens de serras e montes.

Recorto na coluna vertebral
dos afagos no tempo esfumados,
neste mundo, um grandíssimo quintal,
de belos recantos tão fustigados.

Tantas palavras ditas e escritas
com atitudes deveras malditas
trazem apreensão em nossas mentes.

Há que parar o mal nesta certeza
de não machucar mais a natureza
nesta sociedade de inteligentes.

António MR Martins

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Baldios de esperança


Imagem da net.




Rasgam-se as terras com a máquina
do prazer, num sulcar eminente e
transviado, de odor bucólico e fervilhante.

Revolvem-se granulados de memórias
e dádivas intemporais, no seu próprio tempo
de maturação, ante o anseio
de tanta massa humana envolvida.

Quando as gotas do líquido precioso
começam a esbanjar sua premente riqueza,
no inolvidável mundo da descoberta,
logo o prenhe sentido metafórico da criação
se humedece de esperança vibrante.

Os aromas começam a empolgar
todos os ânimos.

Nesta transformação contínua
renasce o sentido natural de todas as coisas
que a terra traz à sua tona.

A esperança luminosa absorve os conteúdos
de todos os imos e o enlevo cresce
em todos os sentidos.

Um dia a terra acolherá todas as vibrações
na plena transformação de toda a matéria,
e os sentidos serão os mesmos
em contagem decrescente.


António MR Martins

terça-feira, 25 de setembro de 2018

Fátima Guimarães


Fátima Guimarães, imagem da net.




Claire de lune

Lateja-me
na pele nua
a quentura da tua seiva

nos lábios
uma sede redentora.

Deliciada fecho os olhos
deixo a tua mão descobrir
o meu corpo
e já não adormeço.

Fátima Guimarães, in “a voz do nó”, página 76, edição da Autora, Novembro de 2014.

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Longe de tudo


Imagem da net.





Separam-se os braços unidos
na poeira dos sentidos,
perante o agravar
das incompatibilidades entre cada ser.

Sobra um rastreio passivo
onde a sucessiva discórdia
não implementa o recurso
ao diálogo.

Tornam-se desavindos
os meios para a congruência,

nada fará mudar
tais conteúdos
neste longínquo estar
sem permanecer.

As recordações
vão ficando ténues
e o futuro distante
inacessível.

António MR Martins

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Sara F. Costa


Sara F. Costa, imagem da net.





Inundação

gosto  da tua face como uma espada
quando me devolves os gestos
e arrefeces o ar com o sotaque certinho.
é arte o ritmo cardíaco dos teus movimentos,
enquanto o sangue te circula veloz.
é nesta flecha libidinosa que acordas a poesia,
realças longamente o espírito,
passeias- te ostensivamente
na passerelle da coordenação motora.
não sei se é inspiração ou desejo
nos músculos do poema,
o suor impudico
inundado de ti.

Sara F. Costa, in “A Transfiguração da Fome”, página 55, edições Labirinto, colecção contramaré / 19, 2018.  

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Abismo letal


Imagem da net.



Medram, assim, pruridos incoerentes
singulares batidas no meu peito,
apelo a causas inexistentes
consciência perdida, sem ter jeito.

Sensações precárias, vão balançando,
no haver da inoportuna razão;
o horizonte findo, vou mirando,
acolhimento de grande adesão.

Paradigma de tanta letargia
que não muda sem algo de magia, 
perante um contínuo anoitecer.

Rede de desejos impacientes
aniquiladora sem precedentes,
resquícios pelo eterno fenecer.

 
António MR Martins