cada
ser humano
é
um mundo
por
cada caso que se tenha
há
um passo desencontrado
em
cada um de nós
valham
os profundos sentires
de
cada âmago
eis
a razão fundamental
de
cada sobreviver
a
vida
é
a complementaridade
cada
ser humano
é
um mundo
por
cada caso que se tenha
há
um passo desencontrado
em
cada um de nós
valham
os profundos sentires
de
cada âmago
eis
a razão fundamental
de
cada sobreviver
a
vida
é
a complementaridade
Os
passageiros deste mundo
acoitam-se
no silêncio efervescente
dum
confinamento (in)ultrapassável,
como
lobos por saciar
uivando
atoardas e cumplicidades
por
entre devaneios infundados.
Nada
satisfaz a obediência…
até
o avançado falha o golo
com
a baliza totalmente aberta.
António MR Martins
Nesta mesura desencantada
segue a derriça atribulada
das raízes da vida.
Um vigarismo constante
impõe metas impossíveis de alcançar.
A despreocupação generalizada
preocupa
cada vez mais
o cerne da questão.
A decência traça o seu declínio
e a demanda de todas as projecções
ultima a hora derradeira.
António MR Martins
Viagem
em Pensamento
Esta é a viagem
que mais gosto de fazer
nem preciso de passagem
e está sempre a acontecer
Embarco no passado
e vou onde eu quiser…
sem pressas e sem bagagem
aí visito a minha infância
num calmo e doce reviver
e nem importa a distância
Instalo-me no hotel das Estórias
que fica na Rua das Memórias
é um hotel com muitas estrelas,
lindo, mas sem portas nem janelas
Perco-me por aqui e por ali
e, quando preciso voltar
trago em mim tudo o que vivi
para uma “estória” contar
Agora tenho que ir
para mais uma viagem
- alguém quer vir?
Já sabem
Não é preciso bagagem
Maria Dias, in “ Hoje não te posso abraçar”, página 17, edições
Boutique da Cultura, Novembro de 2020.
somos
o corpo conformado
confinado
ao rasteiro esvoaçar das aves
esgotado
pelos incompreensíveis largos voos
que
não alcançam destinos
e
sobrevoam sempre o mesmo local
restando
no
eixo da intimidade da derme.
António MR Martins
PINGO DE SOL
Ainda
vivem flores na borda da estrada,
rasteiras
num abrigo do vento gelado.
Bebem
grossas gotas de água
e
nelas quase se afogam.
Mas
resistem as flores na orla da estrada
no
seu amarelo humilde e persistente,
um
pingo de sol em chão agreste
um
fio de esperança que atravessa os dias
e
põe luz desejada no cinza latente.
Alice Duarte, in “Guardadora de Ecos”, página 41, Colecção A Água e a
Sede, edições Modocromia, Novembro, 2020.
DESEJO I
Onde
não havia estava o corpo
e
o corpo queria ouro.
Com
vontade fico ferro
quase
ouro
quase
prata,
carne
acesa.
Onde
não havia estava o corpo
que
pedia ouro e aceitava fogo.
Edgardo Xavier, in “Não pises as formigas”, página 49, edições Modocromia,
Fevereiro de 2020.
Um grande abraço, meu bom amigo. Desejo de
boas melhoras e rápido restabelecimento.
Nas
fissuras dos meus dedos
ardem
desgostos da vida,
salpicados
d’alguns medos
causas
de tanta ferida.
Espalham
às contínuas mãos
desesperos
do seu sofrer,
repercutindo
os senãos
ao
apaziguar do viver.
Firmes
raízes consolidam
as
estripes emergentes,
enquanto
dermes lidam
com
os dedos mais doentes.
Mágoa
toldada assim
nas
rugas vindas da pele,
canteiro
sem flores de mim
ínfimo
ponto que gele.
Áspero
sentir do imo
no
culminar da saudade,
no
verso que ora rimo
que
anseia liberdade.
António MR Martins