domingo, 31 de janeiro de 2021

situações complementares

 

Imagem na net.


cada ser humano

é um mundo

por cada caso que se tenha

 

há um passo desencontrado

em cada um de nós

 

valham os profundos sentires

de cada âmago

 

eis a razão fundamental

de cada sobreviver

 

a vida

é a complementaridade

 

 António MR Martins


quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Golo falhado

 


Imagem na net.


Os passageiros deste mundo

acoitam-se no silêncio efervescente

dum confinamento (in)ultrapassável,

como lobos por saciar

uivando atoardas e cumplicidades

por entre devaneios infundados.

 

Nada satisfaz a obediência…

até o avançado falha o golo

com a baliza totalmente aberta.

 

 

António MR Martins


quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Ponto final

 

Imagem na net.


Nesta mesura desencantada

segue a derriça atribulada

das raízes da vida.

 

Um vigarismo constante

impõe metas impossíveis de alcançar.

 

A despreocupação generalizada

preocupa

cada vez mais

o cerne da questão.

 

A decência traça o seu declínio

e a demanda de todas as projecções

ultima a hora derradeira.

 

António MR Martins


domingo, 17 de janeiro de 2021

Maria Dias

 

Capa de "Hoje não te posso abraçar", de Maria Dias.


Viagem em Pensamento

 

Esta é a viagem

que mais gosto de fazer

nem preciso de passagem

e está sempre a acontecer

 

Embarco no passado

e vou onde eu quiser…

sem pressas e sem bagagem

aí visito a minha infância

num calmo e doce reviver

e nem importa a distância

 

Instalo-me no hotel das Estórias

que fica na Rua das Memórias

é um hotel com muitas estrelas,

lindo, mas sem portas nem janelas

 

Perco-me por aqui e por ali

e, quando preciso voltar

trago em mim tudo o que vivi

para uma “estória” contar

 

Agora tenho que ir

para mais uma viagem

- alguém quer vir?

Já sabem

Não é preciso bagagem

 

Maria Dias, in “ Hoje não te posso abraçar”, página 17, edições Boutique da Cultura, Novembro de 2020.


terça-feira, 12 de janeiro de 2021

ultra conformação

 

Imagem da net.


somos o corpo conformado

confinado ao rasteiro esvoaçar das aves

esgotado pelos incompreensíveis largos voos

que não alcançam destinos

e sobrevoam sempre o mesmo local

restando

no eixo da intimidade da derme.

 

António MR Martins


segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

Alice Duarte

Capa de "Guardadora de Ecos", de Alice Duarte.

 


PINGO DE SOL

 

Ainda vivem flores na borda da estrada,

rasteiras num abrigo do vento gelado.

Bebem grossas gotas de água

e nelas quase se afogam.

Mas resistem as flores na orla da estrada

no seu amarelo humilde e persistente,

um pingo de sol em chão agreste

um fio de esperança que atravessa os dias

e põe luz desejada no cinza latente.

 

Alice Duarte, in “Guardadora de Ecos”, página 41, Colecção A Água e a Sede, edições Modocromia, Novembro, 2020.



quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

Edgardo Xavier

 

Capa do livro "Não pises as formigas", de Edgardo Xavier


DESEJO I

 

Onde não havia estava o corpo

e o corpo queria ouro.

Com vontade fico ferro

quase ouro

quase prata,

carne acesa.

Onde não havia estava o corpo

que pedia ouro e aceitava fogo.

 

Edgardo Xavier, in “Não pises as formigas”, página 49, edições Modocromia, Fevereiro de 2020.  

 

Um grande abraço, meu bom amigo. Desejo de boas melhoras e rápido restabelecimento.


Desencontrada procura

 

Ponte desencontrada. Foto de José Sobral (na net).


Nas fissuras dos meus dedos

ardem desgostos da vida,

salpicados d’alguns medos

causas de tanta ferida.

 

Espalham às contínuas mãos

desesperos do seu sofrer,

repercutindo os senãos

ao apaziguar do viver.

 

Firmes raízes consolidam

as estripes emergentes,

enquanto dermes lidam

com os dedos mais doentes.

 

Mágoa toldada assim

nas rugas vindas da pele,

canteiro sem flores de mim

ínfimo ponto que gele.

 

Áspero sentir do imo

no culminar da saudade,

no verso que ora rimo

que anseia liberdade.

 

António MR Martins