sábado, 29 de maio de 2021

Sentinela alerta

 

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Desaparecem os ventos

que empertigam as vozes
de todas as pedras caladas.
 
No descuidado relento
de toda a brandura
crescem as ervas
dos naturais campos da conformidade.
 
Nos verdejantes terrenos
onde resta a qualidade
sobejam aves filtradas
que esvoaçam à deriva
no deleite de tanta vivacidade.
 
As fragrâncias são únicas
com aromas incomparáveis
que inspiram sobremaneira
toda a envolvência.
 
Escondida está a tez da negação
que aguarda atentamente
o momento propício
para poder entrar em cena.
 
As raízes do mal
continuam espalhadas por aí.
 
Esperando! Esperando! Esperando!...
 
 
António MR Martins

quinta-feira, 20 de maio de 2021

António Duarte

 

Capa do livro "Pronto a despir - O Livro",
de António Duarte.


  
Raras neblinas
 
talvez sejam
só as tuas mãos
raras, pela neblina…
talvez
sejas só humidade!
este toque que sinto na pele
tão ausente da tua.
 
é desmedido e insano
este instante em que sou nuvem
e te fixo numa gota…
mas és só miragem
és planta sem raiz
 
 
António Duarte, in “ Pronto a despir – O Livro”, página 42, edições Cordão de Leitura, Agosto de 2020.
 
Nota de autor:
 
Livro sem hífens. Por opção. Sem divisões, sem muros no meio das palavras. Porque sim!
Existem textos com e sem pontuação. Por vontade própria!
Existem textos sem maiúsculas, pelo mesmo motivo!  

domingo, 16 de maio de 2021

Canto à saudade

 


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Numa árvore esquecida
pelo decorrer dum perdido tempo
há um pássaro residente
conivente com o seu ramo da saudade.
 
Saltita de uma ponta à outra
cantando melancólicas melodias
sempre às mesmas horas de cada dia.
 
À noite os pirilampos envolvem
esse espaço mítico
como luzes de velas em movimento
onde se desenraízam
as memórias esfumadas
de um desalinhado passado
em silêncio.
 
A saudade é então cantada!...
 
 
António MR Martins

quinta-feira, 13 de maio de 2021

Manuel Barata

 

Capa do livro "Aqui a caminho", de Manuel Barata.


SEMPRE A CASA
 
A casa. Já foram tantas!
(repito de propósito o verso)
não sei ao certo quantas foram;
todavia, só da primeira,
pequena
e de quase tudo despojada,
guardo saudades.
 
Sobretudo dos afectos…
 
Poucas coisas havia naquela casa
- os livros eram coisas inúteis
e o primeiro estava escrito em latim
e tinha capa amarela. –
e por isso era espaçosa e dava até
para jogar à bola
no estreito corredor.
Era uma casa nova e sem memórias.
 
Continuando austera,
essa casa primeira é a única
(agora repleta de memórias)
que me faz pensar e falar de regresso.
Sei que se trata de retórica pura,
Porque o rio procura a foz
e nunca regressa à nascente.
 
Manuel Barata, in “Aqui a caminho”, página 60, edições Câmara Municipal de Castelo Branco, Setembro de 2020.

domingo, 9 de maio de 2021

O viver do novo acordar

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Amanheceste comigo
no aconchego dos lençóis,
vincados por todos os movimentos
esculpidos durante a madrugada.
 
As nossas vozes caladas
permitiram olhares mais profundos
sob a escondida companhia da chuva,
que caía de forma amplamente ruidosa.
 
Passaram alguns minutos
e a bátega de água amainou,
suavemente,
e a manhã clareou, um pouco,
dando azo ao aparecimento
dos primeiros raios solares,
por entre os detalhes do horizonte
do nosso fecundo imaginário.
 
Estores subidos daquele quarto
onde as noites são longas
e, muitas vezes, mal dormidas,
surgindo os nossos primeiros olhares
para o exterior
ante mais um amanhecer.
 
Afinal
ainda há mundo lá fora!...
 
 
António MR Martins

terça-feira, 4 de maio de 2021

O verso da vida

 

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Na esquadria dos dias
se implantam os sentires
pelo desafogo de todas as emoções.
 
O quotidiano é prenhe
da junção de todos os gestos
e das atitudes
que vão acolhendo todas as metáforas.
 
Todas as zangas são ultrapassadas
desencadeando
o cultivo da compreensão
ilimitada. 
 
Assim renasce a harmonia
no pelouro descabido da insensatez.
 
No desenrolar desta utopia
um travo de melancolia
adorna o aguardado eclipse
e num efémero ápice
se restauram todas as ilusões.
 
Na consciência de quase todos
há uma nova luz
no verso da vida.
 
 
António MR Martins