Capa do livro "Alquimia do Verbo" dois ciclos para um poema,
de Alvaro Giesta, Calçada das Letras, Agosto 2021
A linguagem de um
poeta apagado
Já
não tenho pernas
para acompanhar as palavras apressadas
que esquivas correm à minha frente – indo devagar
consigo enganá-las no seu correr como o cágado
fez à lebre. Quando planeio escrever um poema
e me fogem as palavras, digo-lhes que não preciso
que elas gostem de mim para as escrever – só assim
me entendem; depois
estendem-me um tapete de relva
até à entrada da casa, e convidam-me a entrar –
assim já me sinto alguém; então
como
Caeiro ouso ser o descobridor da natureza
ou
o argonauta das sensações verdadeiras.
Trago comigo
em dias de sol o universo cravado no peito
e à noite, quando as sombras me entram pela casa
adentro, solto as palavras todas guardadas neste bolso
durante o dia, e a coragem em revolta nesta mão
que as semeia num bloco em branco para as fazer
de novo renascer em dia de primavera.
Alvaro Giesta, in “ Alquimia do Verbo dois ciclos para um poema “, página 43,
edições Calçada das Letras, Agosto 2021.
para acompanhar as palavras apressadas
que esquivas correm à minha frente – indo devagar
consigo enganá-las no seu correr como o cágado
fez à lebre. Quando planeio escrever um poema
e me fogem as palavras, digo-lhes que não preciso
que elas gostem de mim para as escrever – só assim
me entendem; depois
estendem-me um tapete de relva
até à entrada da casa, e convidam-me a entrar –
assim já me sinto alguém; então
em dias de sol o universo cravado no peito
e à noite, quando as sombras me entram pela casa
adentro, solto as palavras todas guardadas neste bolso
durante o dia, e a coragem em revolta nesta mão
que as semeia num bloco em branco para as fazer
de novo renascer em dia de primavera.
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