domingo, 13 de março de 2022

Samarone Lima

 

Capa do livro "O Aquário Desenterrado", 
de Samarone Lima.


INSURREIÇÃO
 
 
Meu nascedouro foi ocupado
por insurgências.
 
Cresci a meu modo
sonâmbulo e desigual
arvorando-me desarmado
e, mesmo assim, cúmplice.
  
Na última parte dos desejos
pintei camisas manchadas
e bebi vinhos doces
tão amargos, porém.
 
Foram chuvas que me levaram
foram lágrimas que me lavaram
e segui
sentindo em cada talho
um pequeno desconforto.
 
Mas a madeira do meu corpo
não cresceu a tempo.
 
Ficou o ferro dos dentes
resultou a pedra nos olhos.
 
Tecerei em silêncio
a forma que me devolva
o nascedouro ocupado.
 
 
Samarone Lima (Crato, Ceará, Brasil), in “O Aquário Desenterrado”, páginas 68 e 69, colecção Os Contemporâneos, edições Confraria do Vento, Rio de Janeiro (Brasil), 2013.

Sem comentários: