quinta-feira, 3 de março de 2022

A bala abala

 

Ucrânia, guerra. Imagem na net.


Uma bala cumpre o caminho do seu disparo
o insólito percurso da dor e da perda
a razão inexistente
a força indescritível
num destino programado
não o proveniente da existência sonhada.
 
Uma bala carrasca de um cumprimento salutar
não de um crime
não de qualquer delinquência
sim na rudez implementada com rancor
sem preconceito e conceito
num total devaneio
mas com dor… sempre dor… muita dor.
 
Uma bala que se entranha num peito
de qualquer resistência
num qualquer peito dado a ela
sem quaisquer reticências
e o corpo cai
a casa cai
e toda a vida em redor se fere intensamente.
 
Há uma lágrima de uma criança
um brinquedo que se solta das mãos de outra
uma chama enorme entre o gelo
após um estrondo bem profundo
que ecoa até longe… muito longe
e não há fôlego para mais nada.
 
Depois caem outros corpos
em mutilações doentias e constantes
num sofrimento inexplicável
sem sentido
sem rodeios
sem contemplações.
 
Tudo eclode na passagem de cada bala
e cada bala passa
penetra e ultrapassa a vida
a criação
a história
que nunca mais será a mesma.
 
Tombam todos os alicerces
com um simples clique
pelo frio sangue
com o aperto do gatilho
e a máquina não pára
avassalando a Humanidade
a total sangue frio.
 
Depois ficam os escombros
a incompreensão plena
a dor infinita que a bala deixou
e faltam as palavras
para escrever o que sentimos!
 
 
António MR Martins
 
Depois de ouvir, sentir e ver imagens da entrada das tropas russas pelas terras ucranianas, numa invasão sem explicação e sem limites, Março de 2022.

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