sábado, 23 de abril de 2022

Querendo-me

 

Imagem na net.


É este o trânsito medonho
que nos aborda todos os dias.
Esta a luta diária do acervo
que nos é permitido.
Este é o ensaio da rotina a cada manhã.
 
Ao rubro o diafragma intrínseco
e o palpitar assumido de cada imo,
em sensações ávidas de esperança.
 
Este o esbanjar de um tempo,
em cada tempo de nós,
no seio das vidas permitidas.
Esta a ineficácia obrigatória
da desordem a que nos obrigam.
 
Mas vamo-nos querendo
e nesta labuta contínua
surge o anseio de nos querermos,
cada vez mais, para sempre…
para todo o nosso sempre!...
 
Apesar das folhas tombarem
a cada outono de nossas vidas.
 
António MR Martins

quinta-feira, 7 de abril de 2022

A candeia das remotas memórias


Imagem na net.

 


Da candeia se apagam
as rédeas da visibilidade
e as gotas de petróleo secam seu desvario
numa acendalha descabida
onde outrora o azeite fazia sua escalada
 
Da candeia se desfocam
as imagens ternas e aconchegantes
entre o denodo persistente do frio
e o pavio da concordância
que repele todas as máculas da tristeza breve
 
Da candeia flamejante
pousada no desvario da memória
se ungem os sentidos
através da tangente da sobrevivência
ante a espera do porvir
 
Da candeia irradiante
o calor único e a luz ténue
metamorfoseiam
a palidez incandescente
de um passado nunca esquecido
 
Da candeia velhinha
sobram tantos pedaços de história
na simplicidade do seu manusear
entre as esferas da solidão
e a negrura de tantas noites
 
Pela candeia sem luz
cresce a escuridão do ocaso
na presença de tantos anseios
que aguardam ansiosamente
a claridade de um novo dia
 
António MR Martins