quinta-feira, 30 de março de 2023

Parque infantil

 

Imagem na net.


Giram conceitos vários
de pais e crianças suas,
os avós não são otários
e petizes almas cruas.
 
O Chen baloiça na roda
num desconcerto de bradar,
a Vitória está na moda
e o Yuri quer saltar.
 
A Sophie busca as cordas
que por ali não encontra,
Gonzalo mesmo nas bordas
Para brincar é do contra.
 
Tomás sobe escorrega
ao invés de nele descer,
Afonso descer não nega
mas também se quer esconder.
 
Alice tem seu proveito
de subir ao ponto alto,
grita sempre do seu jeito
para depois dar um salto.
 
Há quem procure escadas
outros túneis escondidos,
lugar dos sonhos e fadas
onde alguns vão perdidos.
 
Com tantos divertimentos
todos podem assim brincar
e por diversos momentos
não sentem o tempo passar.
 
Vêm meninos e meninas
ao parque da diversão
e as coisas pequeninas
lhes parecem imensidão.
 
Todos os dias neste local
as crianças harmonizam,
num fulgor sem ter igual
e elas com tudo brincam.
 
António MR Martins       

quarta-feira, 29 de março de 2023

Cogitações irregulares do quotidiano

Mussolini e Hitler, imagem na net.

 

Aquecem as palavras loucas nestes dias
agudizando sentires de tanto peito,
dentro de parâmetros vis e hipocrisias
que tantos frágeis corações tem desfeito.
 
Ondas de fumaças espalham-se pelo ar
num aperto sôfrego que tudo censura,
a escuridão de antanho começa a pairar
com laivos raivosos mumificando a ternura.
 
Esfregam de contentes as tenazes de suas mãos
as fascizantes torcidas doutros seus irmãos
que fazem renascer chamas mortas e seu lume.
 
Abram os olhos e coloquem-se a postos
há mais coisas além das taxas e dos impostos
“há no ambiente um murmúrio de queixume…”  
 

último verso,  

Camilo Pessanha

 

António MR Martins
RAE Macau, 2023.03.29

segunda-feira, 27 de março de 2023

Fétida censura

 

Coloane, na sua envolvência. Foto de António Martins.


Todas as palavras ficaram retidas
no ancoradouro do cais da solidão
entre as arestas do tempo
e a ondulação precoce
onde as margens consolidadas se envolvem
no intenso descoordenar
dos artífices da memória.
 
A validade é intemporal
perante a estranheza a tanta conformação
e as multidões dispensaram todos os valores
passando à existência
de casos isolados na efemeridade.
 
Dizem uns…
“que a memória é curta”
mas mais quererá parecer
nunca a memória ter existido.
 
António MR Martins  

quarta-feira, 1 de março de 2023

Fosse Lisboa agradecer ao Tejo

 

Lisboa, a ponte, o Tejo e o Cristo-Rei, por Antonio Maertins.


Fosse o mar desentendido
por onde um rio lhe desagua,
perante percurso já esquecido
em água transparente e nua,
como singelo mar mais distraído
pelo rastilho do sinal da lua.

 
Fosse espraiar desinibido
pleno de alegria que magoa,
ante o rumo sempre batido
nas margens de fertilidade boa
ou num provérbio pervertido
de pensamentos sempre à toa.
 
Fosse esse mar um oceano,
por desígnio, o Atlântico,
onde a bandeira desce seu pano
e o fado ecoa seu cântico
sobre qualquer retorno insano
ou simples impulso quântico.
 
Fosse último verso-poema
frágil ou forte, que não destoa,
incansável, distante seu lema
de aprumo eficaz por coisa boa,
no pranto de um Tejo que é tema
quando se curva por Lisboa.
 
 
António MR Martins