segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

"A minha sombra", por António MR Martins

 


Sombra de mim
 
 
Rasgo espaços naturais
na profundeza do meu caminho
quando as manhãs soalheiras
sem expor quaisquer questões
fazem tocar raios solares
ao longo das minhas costas.
 
Logo a sombra sai de mim
pelo chão da continuidade
ante meus seguidos passos
e surgem ideias descontextualizadas
num apreço sem ter rumo
e sem sequer as ter condimentado.
 
Oscilam imagens pendentes
alicerçadas pelo solo pisado
sem contemplar rectidões
e evocam-se sentires profundos
alheios ao desgaste corporal
manifestado num qualquer cansaço.
 
A uniformidade da natureza
na sua ampla riqueza constante
apresenta-me sempre diferenças
e o meu olhar observador
alimenta-me da sua sublimidade
perante as sombras mais sombrias.
 
 
António MR Martins

quinta-feira, 14 de agosto de 2025

 




Imagens da net.


Tanto se sofre neste mundo

 
Este calor suportado
ante a chama do brando lume
incendeia as almas tensas
e tantas calmas virtudes.
 
É um desespero constante
e faz-me fugir da palavra
por entre as lágrimas secas
e a nostalgia da vida
suprindo tanto impulso
no desencanto presente
das queimaduras envolventes
que desintegram a natureza.
 
O vento fadiga-nos mais
e aos soldados da paz perdida
no imaginário da guerra
que nunca tem vencedores
rumando sem destino certo
fugindo dos perseguidores.
 
Que fazer desta desgraça
e das outras que inundam o mundo
sinto-me tão vagabundo
nesta fuga ao opressor
que depois de tanto fugir
à chegada vejo outra partida.
 
 
António MR Martins


terça-feira, 10 de junho de 2025

 


Zona Verde de Ansião, foto de António MR Martins


Efemeridades mentais
 
 
Trago nos ombros
a invisibilidade dos dias impuros
e a secura de tantas gargantas
no contínuo atropelo de todas as mágoas
sob o transporte insípido da ingratidão
e ante o desespero ténue de cada partida.
 
O meu país
é o cerco em que me revolto
na hostilidade intimista
da minha compleição.
 
Reparo assim na fragilidade dos seres
e nos voos desconcertantes das aves
perante o desatino diário da sociedade
na origem das quedas surpreendentes
e no erguer da insegurança
sempre de rédea ampla e larga.
 
As pedradas roçam a pele
e traçam nódoas
nas margens da sofreguidão
na inconstância do tempo
que adianta o atraso do futuro
nas vésperas das partidas
para as linhas do infinito.
 
A vida é o meu tudo
no nada daquilo que sou!
 
 
António MR Martins

quarta-feira, 23 de abril de 2025



Imagem da net.



25 DE ABRIL, SEMPRE!!!

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À memória de Salgueiro Maia
 
 
 
Balão cheio, balão vazio
 
Em nervos da circunstância
pelo intenso caminhar
numa acalmia ponderada
surge a vitória compensada
em virtuoso exultar
num apelo à providência.
 
Ao rubro dos clamores
nas páginas das emoções
aos rudes e amargos travos
se juntaram doces cravos
ante o poderia das contradições
e da hegemonia dos favores.
 
Esquecem a grandiosidade
e seu meticuloso avanço
em euforia incomparável
perante o suceder instável
após tanto amor e descanso
no alcançar da liberdade.
 
Nada lhe deram, mas tiraram
com perspicácia mordaz
em efeito rancoroso
e de veras malicioso
que de forma tão voraz
nesta terra o mataram.
 
 
António MR Martins
(Ao Herói do 25 de Abril de 1974)
- Abril de 2025 -

sexta-feira, 21 de março de 2025

Pelo "DIA MUNDIAL DA POESIA" - 21 de Março de 2025

 
Tanto vale a Poesia
 
 
Um verso solto incomoda
tanto ou mais que missiva,
apesar de não ser moda
é palavra mais activa.
 
Poema é idolatrado
em quaisquer circunstâncias,
mesmo para o ser amado
serve em tantas instâncias.
 
Rimando no seu preceito
ou de forma livre intensa,
corre sempre do mesmo jeito
com virtude e sem ofensa.
 
Traduz sentir profundo
em todas as plenitudes,
é sempre poço sem fundo
sem quaisquer vicissitudes.
 
Poesia é a valência
mais nobre de tod’a escrita,
é a mais bela referência
que apraz ser lida e dita.
 
É a riqueza duma língua
e o corpo de qualquer canção,
poder que nos deixa à míngua.
entre vida e a emoção.
 
 
António MR Martins
Dia Mundial da Poesia
21 de Março de 2025

domingo, 2 de março de 2025

Caem uvas

 

                                                                      Imagem na net



Agora como uvas
do cacho da sobremesa
 
elas pendem desencantadas
umas fortes e seguras
e outras com mazelas
de um tempo
que vai decorrendo sem parar
 
degusto todos os sentidos
numa amálgama de sensações
comendo uma a seguir a outra
sucessivamente
 
algumas vão caindo
no prato sobre a mesa
podres de um tempo
que nos amargura
e num último momento
caem as restantes
 
num outro prato na mesa
quase vazio
resta uma rodela de limão
retiro-a
e sugo-a sob arrepios espontâneos
amarguradamente
 
no acre íntimo da saudade.  
 
 
António MR Martins

sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

 





 À memória da Zira, minha irmã.

 


Um sorriso eterno
 
Num súbito alarde da vida
se desvanece a desmoronada fortaleza,
a realidade se torna pesadelo incauto
tendo em si um cruel desígnio.
 
O caminho é sempre o mesmo
mas procuramos reter a súbita passagem
num tempo que nunca se demora
e corre velozmente
com um sentido previamente destinado.
 
Há partidas inesperadas
e outras aguardadas,
sobre as quais nunca conseguimos
interiorizar tal sortilégio.
 
Partiste mana mais nova
alterando o estatuto da idade
sem forças para tão forte
e desgastante embate.
 
Permanecerá o teu sorriso lindo
à mercê do meu olhar
e entre as memórias mais profundas e belas
enquanto por aqui permanecer.
 
Até um dia sorriso eterno!...   

António MR Martins

segunda-feira, 13 de janeiro de 2025


Imagem na net.

 

 


abandono
 
sobeja
a cantiga fraudulenta
no saque
da intempérie
 
há uma sensação
de avidez
descontrolada
nesta simbiose
defraudada
 
o rastilho
da incompreensão
solta as garras
do seu todo
 
tememos
o que nos espera
nos aziagos momentos
que seguem
 
 
António MR Martins