sábado, 9 de abril de 2011

As palavras que me visitam

As palavras que me visitam,
Sabem o sabor do mel e o gosto do fel.
Viajaram em sonhos e inquietações,
Por entre janelas pintadas de mar.
Foram gota salgada. Espuma dispersa.
Terra encrespada…por navegar!

As palavras que me visitam,
Cansaram de ser pregão adormecido…
Teimam em ser arauto do sentir!
Recusam misturar-se aleatoriamente
No desassossego dos pactos
Onde fervilha o desencanto.
São maiores de idade!
Congratulo-me com a independência
Manifestada, de não quererem interagir
No baile de máscaras onde os vocábulos vagueiam
Na espera do lisonjeio.
Na espera abrupta do engano, que prolifera
Nos dicionários feitos à pressa,
Num aglomerado de ignotos asteriscos
Enfeitados de mesuras …

As palavras que me visitam,
Querem apenas ser palavras…
Humildes, concisas, verdadeiras,
Que visitem a beleza dos jardins
Onde em canteiros de encanto,
Germinem opiniões sérias e atentas,
Que tenham coragem de dizer:
“Não” à mediocridade e “sim”:
À inovação e mudança.
São palavras geradas
Entre o voo da borboleta
E asa da gaivota que percorre o mar.
Desenhadas em chão de mar!
Onde o amor navega com asas de onda
Na crista da terra, vulcão de esperança,
Onda a lava da razão fermenta o campo de paixão.

As palavras amam! A noite, o dia, o sol e o luar.
As palavras crescem no ventre vazio
Aromatizado de esperança.
As palavras sonham!
Pinceladas em painéis de desassossegos,
Que vão colorir a razão.
São pão! Fermentado de vida.
São fresta! Onde se esgueiram os sonhos.
São planície! Onde se erguem roseiras bravas!
São momentos! Onde o tempo passeia e se aconchega.
Onde a vida pernoita e revigora.
Onde o cheiro do mel barra as entranhas
E o odor do fel se dissipa nas paredes do poente.

As palavras que me visitam sabem a chá de alecrim,
Sorvido em goles quentes, na porcelana do olhar.
Porque as palavras, são vocábulos
Vestidos de alcachofras perfumadas,
Guardadas em chão de mar.

Palavras! Os olhos por onde caminham rios de afecto
Nas margens do ser.
Minhas mãos… e as palavras que me percorrem os dedos
Na acção do pensamento,
Sabem a branco da paz,
Onde a pomba tinge o voo no azul de imensidão.

Sabem a infância!
Deitam-se no presente e vagueiam delirantes no futuro,
Onde o casario dos desatinos as adormece
Quando o sol se dependura na saudade… e entardece.

Sabem a poema!
Enlaçam-se na música da cigarra e dançam na poesia.
Têm braços de rimas.
Corpo de estrofes maduras colhidas no pensamento.
Têm pernas,
Onde os versos roçam o pranto da gota de licor
Que em frenesim…enche o cálice galhofeiro
De letras, vocábulos, caracteres…
Onde o poeta se embriaga e faz da poesia o néctar do silêncio…
Saltimbanco de sonhos… construtor de utopias.

As palavras que me visitam,
Vestem-se de cetim, brilho fugaz que furtaram às estrelas,
Quando o luar se dependurou dentro de mim.
Sentam-se no meu colo e adormecem no meu peito.
Pego nelas… com cuidado e entrego-as ao leitor…
Numa viagem de emoções!
São palavras partilhadas!
Palavras, que sabem Amar em chão de Mar!

Dalila Moura Baião

in livro "Amar-te em Chão de Mar", edições Temas Originais (2010)

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