foto de Alfredo Cunha, in Jornal de Notícias online
guarda um silêncio
feito de primeiras palavras
diante do poema, que chega sempre demasiadamente tarde,quando já a incerteza
e o medo se consomem
em metros alexandrinos.
Na biblioteca, em cada livro,
em cada página sobre si
recolhida, às horas mortas em que
a casa se recolheu também
virada para o lado de dentro,
as palavras dormem talvez,
sílaba a sílaba,
o sono cego que dormiram as coisas
antes da chegada dos deuses.
Aí, onde não alcançam nem o poeta
nem a leitura,
o poema está só.
‘E, incapaz de suportar sozinho a vida, canta.’
Manuel António Pina
(homenagem ao grande poeta falecido ontem, com 68 anos - 18-11-1943 a 19-10-2012)
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