sexta-feira, 31 de outubro de 2014
quarta-feira, 29 de outubro de 2014
Licínia Quitério
30.
Parto
para lugares
onde
nada mudou.Vou na correnteza das palavras,
na transparência dos olhos de água,
no músculo do braço a soçobrar,
no escuro do segredo,
no fervilhar da lama,
na constância do medo,
na antevisão da memória,
na exaltação da tarde nas ruas apinhadas.
Dentro da manhã levo o lume e a cinza
de que a viagem se alimenta.
Retorno à fonte, à barca, à ignorância,
ao lugar sempre o mesmo.
Ao poço,
ao anjo,
à rosa branca.
Licínia Quitério, in “Os Sítios”, página 44, edição de autor, Novembro de
2012.
história com amor
Imagem da net, em: www.antoniozumaia.wordpress.com
náufrago em teu corpo
sucumbindo ao tempo
da revolta
e da insistência do prazer
entro
em tua ilha
onde
abunda a resistência às marésnuma intensa sensualidade
culminada em desejos
sem paralelo
resguardo
sentenças
em
ecos de fragilidadeonde se acolhem anseios
pelos póros transpirados
em suas fragrâncias plenas
êxtase
incontido
nas
salivas cruzadase nos braços enlaçados
numa profusão única
ante a batida constante
de um epílogo sublime
António MR Martins
segunda-feira, 27 de outubro de 2014
Joaquim Monteiro
A ETERNIDADE É ESSE TOQUE
Breve
e leve, pelo teu braço, se aflora o canto.
Pulsam
incipientes notas no velado olharOnde o subtil respirar das águas surpreende.
Percorro-te lentamente com a flor dos dedos,
Tacteando a luz que tua pele emana,
Não alcançando a mácula o seu desígnio.
Suspenso
estou, por invisível fio que me guia,
Que
me é dado sentir, respirando apenas,Como se a eternidade fosse esse toque,
Esses sublimes beijos no teu dorso.
Essa “canção desesperada” de teu ventre
Que no meu em se espalhando, ama.
[ó
dulcíssima pele de aveludados medos,
não
temais a loucura de meus dedos,que se me apodera de teus ais.]
Joaquim Monteiro, in “À Janela do teu Corpo”, página 38, edições
Modocromia, Outubro, 2014.
Contagem final (simulacro)
Imagem da net, em: www.rosecolaneri.blogspot.com
Insólita sensação neste sentir
apregoando íntimos remorsos,
neura empertigada pelo devir
por exposição a tantos destroços.
Desfraldadas
bandeiras incolores
mitigando
o desespero dos povos,raças e credos prenhes de suas dores
guerras suspensas entre velhos e novos.
A
fome habita nos confins da alma
e
as mentes perversas não ousam saberrude conclusão que a ninguém acalma.
Os
vampiros vão todo o sangue colher
neste
deserto sem qualquer vivalmae o mundo está prestes a perecer!...
quinta-feira, 23 de outubro de 2014
Susana Campos
50
Tudo me invade
Salpica
Fervilha
Cal-ma
Onde a tempestade não invoca
Segredo dentro de mim
Palavras
Wish you were here in side
Na procura do novo ser.
Onde a água
Solta.
Invade-me como um oceano
E acaricia corpo, meu
Suspirando
Fecho os olhos.
Susana Campos, in “Só Contigo”, página 73, edições Corpos Editora,
colecção World Art Friends XIII, Outubro de 2012.
O agreste caminhar do futuro
Imagem da net, em: www.bocaberta.org
Por entre as pétalas delicadas
Do teu sorriso
Há um apelo ingénuo
À descoberta generalizada
Ante a ampla pureza
Da ternura no teu olhar
Onde a maciez da contemplação
Desponta a relevância de um ventre
Que te trouxe a este palco da vida
Desse
radioso sorriso
Se
solta a frescura de todas as manhãsE o constante nascer de um sol
Que nos envolve de alegria
E de esperança… sem limites
Tuas
mãos geram gestos esvoaçantes
Inquietando-se
perante o germinante saltitarQue em ti predomina
Neste universo
Rastreado pela incongruência
Daqueles que já foram como tu
Mas desvirtuam a tua existência
E o sentido das coisas
Para tantos dos teus contemporâneos
Ainda
há borboletas
Que
voam de flor em florMas escasseia esse profuso colorido
Cada vez mais
Tal como o teu deslumbrante sorriso
Se altera a cada passar de um tempo
Em que a esperança se desvanece
Sem preconceitos
Sem pressupostos
Sem pejo
Tristemente
E sem demoras
Irremediavelmente
quarta-feira, 15 de outubro de 2014
Edgardo Xavier
Contigo
Vivo
a noite contigo
e
juntos andamosem quietude de seda.
Pele
e vontade
corpo
e verdadeum sal de ti.
Vivo
a noite contigo
e
vou pela quenturado teu peito adormecido
até ao fim das estrelas.
Edgardo Xavier, in “Azul como o silêncio”, página 47, edições Chiado
Editora, Maio de 2014.
Nos percursos de um poema
Imagem na net, em: www.vanessafurlani.blogspot.com
Embaraçado no caminhar disperso
alheio a ancestrais recomendações,
revela o oculto em cada verso
que possa transmitir novas emoções.
Deturbam-se
os íntimos sentires
nas
profundezas dos seus interiores,palavras ferem chegares e partires
elevando todos os esplendores.
O
poema tem força no seu condimento
pelo
que pode fazer sentir e imaginarentre a alegria e um lamento.
Tantas
vezes um soluço vem apertar,
noutras
faz diluir tanto tormentoou nos empertiga os trilhos d’amar!...
sexta-feira, 10 de outubro de 2014
Lília Tavares
[Passamos pelos ventos]
como as aves tardias.
Azul é a folhagem
que cobre a nossa nudez branca.
Violinos
tocam a melodia
dos
nossos abraçose as ondas beijam
os lábios plenos e sedentos
por outra boca.
Lília Tavares, in “ Parto com os Ventos”, página 66 (capítulo “Tua”),
edições Kreamus, 2013. Obra com ilustrações de Simone Grecco (esculturas de arame).
frustrantes contrariedades
Imagem da net, em: www.caminhante-vendedordesonhos.blogspot.com
na pele rosada de um lábio
se humidificam hálitos
por cada beijo adormecido
franco
aquecimento neutral
ante
os fulcrais paradigmasde uma sedução contida
complexadamente esbatida
e desabitada de fundamento erótico
resfriam-se
desse modo
os
parapeitos da aventurae encurta-se a razoável extensidade
de cada rubor
neuroticamente
tanto
urge
mas
nem o tempo
servirá
de consolaçãosexta-feira, 3 de outubro de 2014
Hélder Leal Martins
Um esboço da alma
Inconscientemente
foco
o meu olharindiscreto e perpendicular
nos rostos que desfilam
à minha frente
Analiso
à lupa
o
contorno da faceo desenho da fronte
a expressão dos olhos
e as entrelinhas
no livro dos lábios
inspiro a aragem
e desenho à margem
um esboço da alma
atrás de cada imagem
Hélder Leal Martins, in “Até Ser Dia”, página 111, edições Editora Cidade
Berço, Novembro de 2013.
Um novo outono se avizinha
Imagem da net, em: www.iplay.com.br
Quando os ramos das árvores secam
e as folhas se envolvem com o vento,
as ironias, sendo demais, pecam
ao forjar qualquer tipo de lamento.
São
puros ensaios da natureza
que
brindam o olhar de quem as assiste,caminhos duma completa grandeza
intrínseco mistério que lhes consiste.
A
esfera outonal bate à porta
continuar
do tempo que vai e vemonde a essência não está morta.
Ciclo
que surpreende sempre alguém
numa
sequência de vida tortaque já não poderá enganar ninguém.
António MR Martins
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