quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Licínia Quitério






30.

Parto para lugares
onde nada mudou.
Vou na correnteza das palavras,
na transparência dos olhos de água,
no músculo do braço a soçobrar,
no escuro do segredo,
no fervilhar da lama,
na constância do medo,
na antevisão da memória,
na exaltação da tarde nas ruas apinhadas.
Dentro da manhã levo o lume e a cinza
de que a viagem se alimenta.
Retorno à fonte, à barca, à ignorância,
ao lugar sempre o mesmo.
Ao poço,
ao anjo,
à rosa branca.

Licínia Quitério, in “Os Sítios”, página 44, edição de autor, Novembro de 2012.

1 comentário:

Manuel Veiga disse...

uma enorme poetisa.

e boa Amiga.