sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

MIA COUTO





Regresso

Voltar
a percorrer o inverso dos caminhos
reencontrar a palavra sem endereço
e contra o peito insuficiente
oferecer a lágrima que não nos defende

Recolher as marcas da minha lonjura
os sinais passageiros da loucura
e adormecer pela derradeira vez
nos lençóis em que anoitecemos

Reencontrar secretamente
o fugaz encanto
o perfeito momento
em que a carne tocou a fonte
e o sangue
fora de mim
procurou o seu coração primeiro

Bilene, Janeiro 1981

Mia Couto, in “Raiz de Orvalho e outros poemas”, página 22, edições Caminho, 4.ª edição, Março de 2009.  

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