terça-feira, 20 de setembro de 2016

Montserrat Villar González





Por fim, a terra

O ar não consegue apagar
a pequena sombra dos homens
de tão absurdos e arrogantes que somos.

O mar, às vezes, avança
sobre toda a criatura
para demonstrar que somos
seres débeis e finitos.

A terra revolve-se
e remove as mentiras
em sinal de poder.

A lua segue fluindo sempre
num vaivém contínuo e mágico
apesar do pranto
dos que já se sabem frágeis.

Todos desapareceremos e o sol
apagará, por fim, as nossas sombras,
cobrindo de luz
os vazios mais obscuros
que povoaram este mistério.

Montserrat Villar González, in “ Terra Habitada”, página 25, edições Palimage, Outubro 2014.  

Aromas outonais


Imagem da net, em: www.olhares.sapo.pt



O outono aproxima o seu chegar…
as árvores soltam os seus folhedos,
ainda que algumas os deixem ficar
perante o olhar dos arvoredos.

Vogamos na acalmia deste sabor
onde o sol se esconde mais vezes,
cimenta-se, aqui e acolá, a dor…
que consigo traz múltiplos revezes.

Chega o cheiro a terra molhada
e muitas aves vão em debandada
neste seguir natural e eterno.

Os campos revestem-se pardacentos
doutras formas se moldam alimentos,
que num ápice chegará o inverno!...

 
António MR Martins

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Dalila Moura Baião





Nota: Não, não é ficção, não são invenções, não é imaginário, nada disto é deturpado, não são calúnias, não são manobras e sabotagens. Isto aconteceu!... Um determinado maluco-lúcido (ou vice-versa), criminoso hediondo da História Universal, queria criar uma raça única, aquela de especificidade superior, aquela à qual nem ele poderia pertencer. Mas nós somos todos diferentes e todos iguais, ou não?!... Mas ela queria, ele queria… não sei o quê?! Vai daí, ele e os seus súbditos e a nação que os sustentava decidiu espezinhar, dizimar, chacinar, exterminar, das formas mais rudes, cruéis e impensáveis por qualquer sociedade de partilha ou membro da mesma, minimamente humana. Isto aconteceu mesmo! Jamais poderemos esquecer, jamais! Foi na década de quarenta do século passado, infelizmente.

A Dalila traz-nos, no seu recente livro editado, “No Fio da Memória (o holocausto na cáustica manta do tempo)”, sob a chancela da Lua de Marfim, esse enredo duro, impensável… mas aconteceu. Uma poética sublime, intensa, muito bem construída, sofrida, plena de versos imagéticos, que nos embrenham na realidade, uma história negra, pontificada por um dos maiores ditadores de sempre: Hitler!...

Aconselho que leiam esta grandiosa obra poética, e nunca esqueçam tal passagem negra da História da Humanidade… porque isto aconteceu, mesmo!  

12.

As bestas, NÃO!
Eram crianças, meu Deus!
Tinham pássaros no peito
a esvoaçar…
A morte a gritar: Deixem-nos viver!
E o homem a impor o martírio
na crueldade dos instantes
perversos
bestializados na sombra
onde as aves sem gorjeios
ousavam soltar lamentos de esperança.
Olhos de paz – crianças –
rasgo de inquietação a pulsar:
Nos olhos, no tempo, na mágoa do desconhecido…
Na casa esventrada e no choro aniquilado,
na tortura.

Dalila Moura Baião, in “ No Fio da Memória (o holocausto na cáustica manta do tempo)”, página 24, edições Lua de Marfim, Maio de 2016.  

Equívoco



Imagem da net, em: pt.wikipedia.org



Não digas nada, meu amor, agora!
Anoitece nas terras donde saí!…
Sou bruma, percalço da demora,
que ao chegar, no sentir, logo parti!...

Ante o luar nem minha sombra vi,
pelo teu rosto  a lágrima caiu;
vendo os enfeites envoltos em ti…
minh’alma… logo desta terra partiu!...

Tua expressão, assim, disse a graça…
sentindo que esta mera trapaça
se escondeu em metafóricos véus.

Pernoitando em singela poesia…
do contentamento ficou arredia
num epílogo de bradar aos céus!...

 
António MR Martins