sábado, 30 de setembro de 2017

Dora Nunes Gago


Dora Nunes Gago, imagem da net.



Macau

Minha ilha de quimeras,
de pérolas adiadas,
no lodo das esperas;
minha cidade
imaginada,
a escorrer
pela cinza dos dias,
esculpida nos néons
da memória.

Teia de música transparente,
dissolvida
na roleta da vida;
lágrima perdida,
além de todos os rios
e mares por escrever.

Dora Nunes Gago, in “A Matéria dos Sonhos”, página 50, edições Temas Originais, 2015.

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Sintonias balofas


Imagem da net.



Batem às portas do passado,
fechadas pelo tempo
pelas chaves da imortalidade,
em pausados e suaves timbres.

O vento está fugidio
e a chuva arredia,
nestes dias de seca constante.

O verso traz-nos vivências
já esquecidas
ao rubro empolgante da memória,
num intenso aperto
enredado em saudade.

 
António MR Martins

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Lita Lisboa


Lita Lisboa, imagem da net.




ROSA DOS VENTOS

Num tempo de fogo,
quantas pelejas
teremos de hastear?

Com a alma febril do desespero
se espera a hora do milagre,
redentor dos pesadelos.

Até lá, morre-se no crepúsculo.

As essências aromáticas,
dissipam-se nas cinzas voláteis
e sem rota.

O sol derrete-se!
As estrelas choram
reinos de sombras…

E a rota dos ventos,
perde-se nas entrelinhas
dos poemas que não escrevo,
porque as memórias mágicas
adormeceram!

 
Lita Lisboa, in “Crepúsculo”, página 44, edições Temas Originais, 2012.   

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Baloiçar constante


Imagem da net.



Apedrejam-me as memórias
que vou guardando,
cuidadosamente,
nas minhas caixas da vida.

O azul dos meus afectos
resulta
da proeminência das valências
com que encaramos o futuro.

A raiz de cada medo
não é âncora
para a navegação nestes mares.

As ondas entre nós
baloiçam a termo fixo.

 
António MR Martins

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Alvaro Giesta


Alvaro Giesta, imagem da net.




(23 / Set / 2013) – ao Mestre

 

 
O cavalo do tempo
navega
por entre madrugadas cíclicas
e sóis;

desvenda mistérios e rumos
nas suas crinas soltas
de luz-infinita;

grita…

crinas rebeldes
soltas da sombra,
mistérios
nas areias do deserto,

rios por correr
na arena solta e veloz
do tempo…

o pensamento tardio
corre

faminto

por pradarias
de mistérios
por desvendar

 
Alvaro Giesta, in “Um Arbusto no Olhar”, página 38, edições Calçada das Letras, Outubro de 2014.

sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Aprumo necessário


Imagem da net.




A céu aberto
as imagens dos percalços da vida.

Os corações cotejam sentires
na ambiguidade específica
de cada paixão.

Tudo balança
entre as expressões, os olhares,
as falas e os sorrisos,
de grosso modo.

Mas há sempre um aperto
em cada intimidade,
aprumo alfanado
de todas as emoções.

 
António MR Martins

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Camilo Pessanha (1867/2017)


Camilo Pessanha, imagem da net.




Foi há 150 anos o seu nascimento!...

OLVIDO

Desce por fim sobre o meu coração
O olvido. Irrevocável. Absoluto.
Envolve-o grave como véu de luto.
Podes, corpo, ir dormir no teu caixão.

A fronte já sem rugas, distendidas
As feições, na imortal serenidade,
Dorme enfim sem desejo e sem saudade
Das coisas não logradas ou perdidas.

O barro que em quimera modelaste
Quebrou-se-te nas mãos. Viça uma flor…
Pões-lhe o dedo, ei-la murcha sobre a haste…

Ias andar, sempre fugia o chão,
Até que desvairavas, do terror.
Corria-te um suor, de inquietação…

 
Camilo Pessanha, in “Clepsidra”, página 18, edição especial bilingue (português/chinês) do Instituto Internacional de Macau, Março, 2016.

terça-feira, 5 de setembro de 2017

Rio Lis, seio de paixões


Nascente do Lis, foto de M@rio M, in Olhares, Fotografia online.




Da nascente à tua foz
são quase quarenta quilómetros
onde se trapeiam formosuras
e se surpresam sentidos,
entre a eutimia e a tremedeira
e ante o olhar das olgas
situadas nas tuas margens,
perante o esmiuçar observador
dos locais mais oncos e inacessíveis.

O Pinhal de Leiria,
tal como a cidade,
te aconchegam no berço do teu leito,
desde o teu aquinhoar
com um outro da mesma espécie.

Nas Fontes das Cortes o início
e o teu culminar ondejante
acontece no lado norte
da Praia de Vieira,
onde se espraiam todos os teus sentires.

Estavanado por vezes
na tua profundez te acalmas
e, depois,  profuso imperturbado
te dás ao oceano.
 
Cincas-te como todos,
mas nem com o redar das armas
dos pescadores te envolves,
num recruzar de trocas e acolhimentos
pela natureza da abundância.

És o rio
do subitâneo único desejo
dum singelo abordar
e nessa tua fluvial caminhada
nos fazes apaixonar.

 
António MR Martins