sábado, 20 de abril de 2019

Gisela Casimiro


Gisela Casimiro, imagem da net.




TU AINDA ESTÁS VIVO

Substituamos então
a serradura, os pregos e alfinetes
pelo meu sorriso,
que o teu olhar pousa em mim
como um casaco destinado
há muito a deixar de servir.

Substituamos então
o alguidar perfumado,
a sede e os lamentos
por este espinho,
que o teu corpo ousa em mim
como uma esperança
desajustada.

O templo pode enfim fechar.
Trago ao peito o pó
das tuas sandálias
 e se me levanto ou deito
as horas parecem mudar.

Em tudo isto um colo
que não ficará por cumprir
e silêncio e brasa
dentro de mim.

Gisela Casimiro, in “Erosão”, página 16, Editora Urutau, 2018.

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